As áreas em terras indígenas (TIs) estão entre as mais protegidas da devastação e do desmatamento. Ainda assim, esses territórios sofrem enorme pressão de grupos de madeireiros e garimpos e já tiveram cerca de 1,26 milhão de hectares degradados. Estudos indicam que 82% dessa área tem potencial para a regeneração natural e o restante pode ser recuperado com implantação de sistemas agroflorestais (SAFs).
A solução é apontada na mais recente pesquisa do Instituto Escolhas, que destaca o impacto social, econômico e ambiental que a restauração com agrofloresta tem. Segundo o estudo, no bioma Amazônia, em torno de 1 milhão de hectares nas TI tem capacidade de regeneração natural e os demais 200 mil hectares poderiam servir para produção de alimentos.
No total, seriam 1,3 milhão de hectares nas TIs do País onde os SAFs podem ser adotados. O investimento necessário seria de R$ 27,7 bilhões, mas o retorno financeiro chegaria a cinco vezes mais, girando em torno de R$153,3 bilhões.
“Devemos lembrar que a recuperação da vegetação nativa é um dos principais eixos temáticos da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI) e essa estratégia pode fomentar a ampliação de iniciativas já desenvolvidas nas TIs, incluindo projetos capazes de gerar renda e produzir alimentos nesses territórios”, diz o diretor do Instituto Escolhas, Sérgio Leitão.
Além do aumento da renda para as populações diretamente envolvidas, o apoio a sistemas agroflorestais é uma alternativa para alavancar as políticas de soberania e segurança alimentar.
De acordo com as projeções, 317,8 milhões de toneladas de alimentos seriam produzidas nessas áreas ao longo de 30 anos, sendo 88% ou 279 milhões de toneladas seriam de culturas perenes, como frutos in natura, polpa de frutas, amêndoas, sementes e palmitos. Já 38 milhões de toneladas seriam de culturas anuais, como milho, feijão e mandioca.
“É fundamental reconhecer que já existem diversas iniciativas bem-sucedidas em recuperar o que foi desmatado nas TIs, mas somente com a ação e o compromisso da gestão pública e do governo federal a restauração vai acontecer com a escala e a velocidade necessárias em todo o país”, acrescenta Sérgio Leitão, que diz que já há propostas de apresentação do estudo à equipe do Ministério dos Povos Indígenas (MPI).
Outro benefício da estratégia que combina regeneração natural com sistemas agroflorestais seria o reforço da capacidade de absorção das emissões de carbono no País, fortalecendo o combate às mudanças climáticas. De acordo com a pesquisa, a recuperação da vegetação nas TIs pode representar a remoção de 798,8 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera ao fim de 30 anos.