Em meio a um cenário desafiador de aumentar a produtividade do campo, mas também promover práticas menos danosas ao meio ambiente, agricultores e pecuaristas do Pará têm apostado em estratégias de diversificação. É nesse contexto que o sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) vem ganhando espaço na dinâmica da economia rural.
A concepção do ILPF permite que em um mesmo imóvel sejam associados e combinados os diferentes componentes produtivos de acordo com a demanda de cada propriedade. Uma das vantagens é que essa dinâmica possibilita o crescimento econômico com o aproveitamento dos diversos usos da terra.
Além disso, a pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental Gladys Martinez comenta que o sistema ILPF surge como alternativa para a recuperação de áreas degradadas pela pastagem em menos tempo e com menor custo.
Isso porque as técnicas tradicionais de restauração demandam investimentos maiores e geralmente a terra se torna apta para um novo somente no período de dois a quatro anos.
Já quando ocorre a inserção da agricultura em uma área antes ocupada pela pecuária, o produtor consegue obter retorno financeiro com venda da produção em cerca de um ano.
Aliado aos ganhos econômicos, o ILPF proporciona ainda benefícios como a maior retenção de carbono e melhoria do microclima na propriedade e do bem-estar animal. Dessa forma, o sistema ajuda a mitigar os efeitos das mudanças climáticas, sobretudo em períodos com altas temperaturas e tempo mais seco.
“Aqui na região amazônica, as arvores vem para amenizar o calor excessivo, diminuindo o impacto da radiação direta no solo e ajudando na retenção da umidade. Isso é muito importante porque o calor faz o animal perder a disposição, fica mais agressivo, há mais casos de abortamento, entre outros problemas que não se visualiza. Quando se tem um clima mais adequado, em termos de produção, há um impacto muito positivo”, afirma Gladys Martinez.
A especialista lembra que as técnicas gerais do sistema produtivo já eram em parte conhecidas e adotadas por muitos produtores rurais, no entanto ainda faltava aprofundar as pesquisas e elaborar abordagens adequadas para os diferentes biomas brasileiros.
Com o maior fomento do governo a essa prática, inclusive no contexto do Plano de Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC), houve uma maior adesão nos últimos 15 anos.
“Eu considero que o ILPF é hoje um sistema consolidado e reconhecido pelo produtor. Infelizmente, ainda temos dificuldade de chegar em pequenos produtores, mas já temos muitas experiências com grandes produtores da região de Paragominas e do Baixo Amazonas que utilizam o ILPF com muita consistência”, analisa.
No caso de agricultores familiares, Gladys considera que os sistemas mais difundidos são os agroflorestais, que, em sua visão, tem semelhança com o ILPF, assim como traz uma série de vantagens socioambientais para o campo.
“A base teórica é a mesma, que é fazer com que uma produção contribua para a outra. Nos SAF’s (sistemas agroflorestais) também temos o uso de arbustos e frutíferas, que contribuem para a produção agrícola. A diferença é que nos SAF’s pouco se usa animais de grande porte, mas sim pequenas criações. Mas ambas são interessantes tanto para pequenos quanto grandes produtores”, ressalta.
Por Fabrício Queiroz