Por Fabrício Queiroz
Seja mais doce ou meio amargo, em barra ou em trufa, em bebida quente ou como um sorvete bem gelado, todo mundo gosta de um bom chocolate. Por causa dessa preferência mundial, as amêndoas de cacau são hoje um produto muito valorizado no mercado, mas fazer com que o chocolate chegue às lojas está cada vez mais difícil devido aos impactos que as plantações têm sofrido com as secas recentes.
Isso ocorre porque o cacaueiro é uma árvore que precisa da combinação de três fatores para o seu desenvolvimento: clima tropical, com temperaturas entre 22º e 26ºC, chuvas regulares e solos profundos. Porém, as estiagens prolongadas dos últimos anos interferem em dois desses elementos e causam prejuízos para os produtores.
Entre os impactos mais comuns estão o atraso da safra, a redução da produtividade e até a morte de algumas árvores. É o que já vem ocorrendo na África, onde ficam Costa do Marfim, Gana, Camarões e Nigéria, que são os principais produtores mundiais de cacau. Um novo estudo realizado pelo grupo de pesquisa independente Climate Central aponta que as ondas de calor se tornarão ainda mais frequentes naquela região.
“Não pode ficar muito tempo sem chover. Com três meses sem chuva, por exemplo, já cai bastante a produção. O que tem acontecido é que os produtores têm tido perdas consideráveis nesses últimos anos, de 30% a 40%, porque quanto está muito quente também cai a umidade relativa do ar e isso aumenta as perdas”, explica Vicente Morais, engenheiro agrônomo e coordenador de projetos Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA).
SAF protege produção
Em Tomé-Açu, no nordeste paraense, os agricultores sentiram os efeitos das secas, mas as perdas foram minimizadas pelos benefícios gerados pelos sistemas agroflorestais (SAFs). Nesse modelo, o cultivo agrícola convive com espécies frutíferas e florestais, gerando uma diversificação da produção e da fonte de renda. Outra vantagem é que as agroflorestas melhoram o ecossistema, preservando a qualidade do solo e da água e protegendo a biodiversidade.
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Além disso, a combinação de árvores de maior e menor porte cria sombras e conforto térmico que são importantes para o cacaueiro, por exemplo. Vicente Morais afirma, no entanto, que é preciso atenção com as plantas que serão consorciadas
“Algumas plantas são mais agressivas e podem atrapalhar o cacau porque elas não entram em dormência no período seco e criam uma competição por água. Já identificamos isso com a castanheira e o mogno africano. Por outro lado, o mogno amazônico, o taperebá e a andiroba casam muito bem porque quando começa a estiagem elas entram em dormência, algumas delas jogam todas as folhas e, com isso, cai a evapotranspiração delas e beneficia o cacaueiro”, esclarece o agrônomo.
Modelos sustentáveis
Com a intensificação das mudanças climáticas, a agricultura está em risco, mas os impactos podem ser reduzidos com estratégias de adaptação e modelos sustentáveis que conseguem preservar a produção mesmo em períodos de crise. Esse aprendizado faz parte da história da CAMTA, que há cinco décadas reverteu as perdas causadas pela monocultura com modelos do Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (SAFTA).
“Aqui na CAMTA houve aumento na procura de amêndoas, principalmente vindo do mercado nacional. Recebemos contato e pedidos de empresas que nunca tinham nos procurado porque temos amêndoas de qualidade e boa produtividade”, ressalta Vicente Morais.