Por Fabrício Queiroz
Produzir em monocultivo pode parecer uma boa estratégia para os agricultores, afinal basta plantar e comercializar aquilo que tem grande demanda no mercado. Porém, a longo prazo essa prática provoca uma série de prejuízos afetando tanto a economia quanto a subsistência no campo. Em Paragominas, no nordeste paraense, agricultores familiares encontraram nos sistemas agroflorestais (SAFs) uma forma de recuperar a produtividade de áreas deterioradas.
Os desafios de uma cultura pouco diversificada e com alto custo de manutenção foram enfrentados por famílias de produtores rurais como a de Jaqueline Silva.
“Os nossos principais problemas sempre foram a falta de apoio e também a maneira que a agricultura vinha se desenhando, que era através do monocultivo com uso de defensivos agrícolas. Acabava que a gente gastava muito, produzia pouco e o ganho não era garantido e ainda tinha uma perda muito grande”, lembra a agricultora, que hoje é uma das beneficiadas por um projeto que estimula a adoção de SAFs na região.
A iniciativa denominada Restauração Florestal por Agricultores Familiares na Amazônia Oriental (|Refloramaz) é promovida pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) no Pará em parceria com o Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (CIRAD) e o financiamento da União Europeia. O programa foi implementado em três polos no estado: Marajó, Altamira e Paragominas, estimulando soluções sustentáveis específicas para cada contexto, Em Paragominas, o foco é a avaliação de estratégias para recuperação florestal.
“O nosso principal resultado é contribuindo com projetos de mitigação das mudanças climáticas e restauração de áreas degradadas. Já são 50 hectares restaurados em sistema de agricultura sem fogo, 19 hectares em sistemas de SAF Cacau e 350 hectares com pecuária”, comenta Renata Silva, gerente de sustentabilidade do Sebrae no Pará.
Por meio do Refloramaz, os agricultores têm acesso a conhecimento técnico, troca de experiências e acompanhamento para implementação de sistemas agroflorestais que ajudam a recuperar as paisagens e a elevar a produção do campo.
No sítio de Jaqueline Silva, por exemplo, onde o cultivo de mandioca era dominante e convivia com plantios menores de hortaliças e criação de galinhas, hoje podem ser encontrados milho, cacau, açaí, jerimum e outras variedades de alimentos. No total, sete famílias são beneficiadas pela experiência.
“A gente estava iniciando um trabalho com agrofloresta e o Refloramaz surgiu multiplicando esse conhecimento. As vantagens são enormes porque a gente viu os primeiros plantios de 2021 poderem ser coletados em poucos meses. Primeiro veio o milho, depois tiramos o jerimum e assim sucessivamente. Não tivemos mais perdas, pelo contrário foram só ganhos”, afirma Jaqueline.
Além dos impactos positivos no meio ambiente e no aumento da produção do campo, o projeto contribuiu com a ampliação de oportunidades de trabalho e renda para os jovens, contornando o problema do êxodo rural, assim como fortaleceu a organização da comunidade já que as tarefas de plantio e colheita nos SAFs são feitas em coletivo.
“A agrofloresta nos proporcionou, alegria, esperança, prosperidade, diversidade e muita união. Através dos mutirões vimos a alegria do agricultor sendo renovada”, ressalta a agricultora.