Aliando a produção de alimentos, a proteção da biodiversidade e a geração de renda, os sistemas agroflorestais (SAFs) são uma das principais tecnologias agrícolas empregadas no meio rural paraense e uma arma poderosa contra as mudanças climáticas. No nordeste do estado, o município de Tomé-Açu tem um histórico de sucesso com esse modelo muito replicado entre os produtores de origem nipônica.
Entre os dias 11 a 14 de março, uma missão técnica visistou a cidade para os Sistemas Agroflorestais, que são referência em produção sustentável na Amazônia. Gestores e pesquisadores da Embrapa Cocais (MA) , técnicos da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais do Maranhão e a produtora rural Teresa Vendramini, membro do Conselho de Administração da Embrapa (Consad) conheceram SAFs de diferentes escalas em áreas de produtores.
A história desses agricultores com a agrofloresta vem de longe. Em meados da década de 1960, os imigrantes japoneses e seus descendentes enfrentaram grandes perdas na produção de pimenta-do-reino devido à disseminação de um fungo que causa a fusariose. Diante da crise, os agricultores passaram a implementar plantios inspirados nas práticas já usadas pelas populações locais e na própria composição da floresta, privilegiando o consórcio de espécies frutíferas e florestais ao invés do monocultivo.
Assim, os SAF ou agrofloresta, como também é conhecido, se tornou um modelo de referência para a economia local, possibilitando o desenvolvimento de diferentes culturas agrícolas e uma cadeia agroindustrial na região, onde hoje é difundida a tecnologia social do Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (SAFTA).
“Um dos maiores benefícios desse sistema é a diversificação e a geração de produtos em épocas diferentes. Isso possibilita ao agricultor ter produção o ano inteiro na propriedade. E a diversidade traz também o ganho ambiental, com a presença de outros seres vivos no sistema”, ressalta o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Osvaldo Kato.
Variedade é a chave
Um dos pioneiros na implantação dos SAFs foi Michinori Konagano. Atualmente, o agricultor mantém 230 hectares com agroflorestas que combinam plantios de cacau, açaí, pimenta-do-reino, cupuaçu e citros, além de melancia, abóbora, feijão e maracujá.
A diversidade também é uma marca da propriedade de José Maria Pantoja Filho, que trabalha com o modelo há mais de 30 anos. O agricultor conta que o principal produto é o cupuaçu, mas é a variedade de frutas colhidas ao longo do ano que garante a subsistência e a geração de renda para a família.
“Eu tenho cacau, açaí, pimenta-do-reino, maracujá, taperebá e cupuaçu em diferentes combinações. No SAF a gente colhe o ano todo e todas culturas complementam a renda”, comenta José Maria.
A agroflorestas têm sido utilizadas com sucesso também com a dendeicultura. Na região, um projeto da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta) e da Natura em parceria com a Embrapa estimula o cultivo da palmeira com árvores de andiroba, cacaueiros, açaizeiros e outros.
Cerca de 420 hectares do município já adotam esse sistema, entre eles estão 40 hectares do agricultor Ernesto Suzuki. Na propriedade dele também há outros 60 hectares de SAF onde é possível encontrar taperebá, mogno, cupuaçu e outras espécies frutíferas e florestais.
“Existe uma harmonia entre as várias espécies existentes aqui, não só em termos de solo, microrganismos, mas também entre os animais, diferente de um monocultivo”, afirma.
Para a Embrapa, os sistemas agroflorestais são um exemplo bem-sucedido do impacto que a pesquisa científica traz para a redefinição de desenhos de produção de alimentos que considerem indicadores ambientais, sociais e econômicos.
“Os sistemas agroflorestais representam um modelo de produção que temos defendido para a Amazônia. É inclusivo, é ecologicamente desejável por ofertar serviços ambientais e mitigar emissões de gases de efeito estuda e resulta em recursos diversos para a nossa população”, pontua o chefe-geral da instituição, Walkymário Lemos.