Agricultores familiares já enfrentam atualmente dificuldades para manter a produção de alimentos devido ao impacto das mudanças climáticas. Em um cenário adverso e com os desafios de evitar a degradação da floresta e de manter boas produtividades que sirvam para o consumo próprio e para a comercialização, os sistemas agroflorestais (SAF’s) vem ganhando mais espaço no meio rural paraense.
No Arquipélago do Marajó, comunidades dos municípios de Anajás, Portel e Breves estão apostando nesse modelo produtivo que combina a vegetação nativa com o plantio de diferentes espécies comestíveis, incrementando assim as safras e a geração de renda na região.
O incentivo à adoção dos SAF’s nessas localidades ocorre com o apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT). O trabalho tem o objetivo de demonstrar as vantagens ambientais e socioeconômicas dos sistemas agroflorestais, além de ajudar na articulação dos produtores na proteção dos seus territórios, que é cada vez mais visado por grandes fazendeiros e grileiros.
“Nós trabalhamos de acordo com o que temos condições de fazer, não pelas moradoras e moradores, mas com eles. Então, damos o ‘pontapé inicial’, combinando um local para implementar e chamando a comunidade pra participar. A partir disto, os demais vão implementando e dando continuidade ao projeto. E tem dado muito certo, porque as comunidades estão vendo o projeto como um incentivo, mesmo de início com aquela surpresa pela novidade”, afirma o agente da CPT em Breves, Genésio Silva.
Na região, espécies nativas como o açaizeiro, a seringueira, a castanheira e o bacurizeiro convivem com cultivos de frutas, vegetais e hortaliças com colheitas mais rápidas, como é o caso da melancia, do maxixe e do milho. O agricultor Dob conta que com o SAF conseguiu colher o maxixe em um período menor do que com o plantio convencional, passando de 2 meses e 15 dias para 1 mês e 15 dias.
“O SAF surpreendeu a gente, porque é uma forma de a gente cultivar a terra cuidando dela, não destruindo, e assim tirou aquela forma velha de a gente plantar. Tem sido muito importante também para que a gente ensine para as futuras gerações, jovens, crianças e adolescentes, a importância de fazer esse trabalho, e de que dependemos muito da terra, das árvores, das águas”, diz o produtor.
Outra das beneficiadas na região foi Maria Maia, do município de Melgaço. Ela conta que o contato com o projeto permitiu ampliar sua visão sobre o cuidado com a terra, aprimorando os conhecimentos que já possuía. Agora, ela se formou como técnica em agropecuária e atua como agente da CPT se dedicando principalmente à capacitação de jovens.
“Descobri que a agroecologia e o SAF aprimoram o que a gente já conhecia e fazia, do cuidado com a terra. Não precisa ser uma área grande, não precisa ser longe de casa, é ocupar o espaço dos quintais com diversas culturas pra a nossa alimentação, para a criação de peixe, de frango, e pra gerar uma renda vendendo o excedente. É um ciclo que a gente alimenta os animais e eles alimentam a roça”, destaca a agricultora.