O produtor rural paraense já entendeu: quanto mais abelhas, melhor para a produção de açaí. Quanto mais floresta, mais polinizadores e mais frutos.
O projeto “Manejo de Polinizadores como apoio à produção sustentável de açaí na região do estuário amazônico”, coordenado pela Embrapa e financiado pelo CNPq em parceria com a Associação A.B.E.L.H.A., estudou o processo de polinização do açaizeiro (Euterpe oleracea) e revelou os principais agentes que transportam o pólen entre as touceiras.
“O açaizeiro tem uma mega diversidade de polinizadores, como abelhas, moscas, vespas, besouros e formigas, mas são as abelhas nativas as principais responsáveis por esse serviço ecossistêmico”, explica a pesquisadora Márcia Maués, da Embrapa Amazônia Oriental.
Ela explica que o trabalho envolveu a introdução da abelha-canudo (Scaptotrigona aff. postica) em plantios de terra firme para avaliar o incremento na produção de frutos.
“Essas abelhas podem compensar a polinização em áreas onde há uma menor quantidade de vegetação, mas são os polinizadores que estão na natureza, nas áreas de mata nativa próximas aos plantios, os mais importantes para a polinização do açaizeiro”, afirma a pesquisadora.
Qual é a importância da floresta?
A maior parte das abelhas identificadas pela equipe do projeto ainda não pode ser manejada em caixas e introduzidas nos plantios, elas dependem da floresta para sobreviverem. Isso porque são nas árvores grandes que constroem seus ninhos e nas flores de outras plantas que buscam alimento fora do pico de floração do açaí.
“O produtor não precisa olhar para uma mata nativa como perda de espaço. No caso do açaí e da polinização, essas áreas representam a maior fonte dos seus polinizadores, que são as abelhas e outros insetos”, afirma Alistair Campbell, pesquisador colaborador do projeto Polinizaçaí.
A conservação e restauração de áreas próximas aos plantios é uma importante estratégia para produzir esse fruto em terra firme. Isso porque as abelhas que polinizam a palmeira dependem da floresta para sobreviverem.
Qual abelha?
Um exemplo da necessidade de manter grandes árvores e vegetação nas áreas de plantios ou próximas a eles, é a abelha olho-de-vidro (Trigona pallens).
“Trata-se de uma das abelhas mais importantes na polinização do açaí e que não pode ser manejada”, explica o pesquisador Cristiano Menezes, da Embrapa Meio Ambiente.
Ele ressalta que essa espécie faz seus ninhos em ocos e raízes de árvores que só são encontradas em áreas de floresta ou em árvores remanescentes da floresta original, “então para ter essa abelha polinizando o açaí é preciso manter a vegetação próxima aos plantios”, acrescenta.
Exemplos
O agricultor Michinori Konagano, de Tomé-Açu (PA), vê o serviço de polinização como mais um insumo da produção de açaí em terra firme. A área de 80 hectares de açaí irrigado é uma vitrine para os produtores da região.
“Não adianta ter um grande número de plantas por hectare com boa adubação e irrigação se não tiver o serviço de polinização que é prestado pelas abelhas”, conclui o produtor.
Já para Orleans Mesquita, também agricultor de Tomé-Açu, a conservação da vegetação próxima ao plantio é imprescindível.
“Para uma boa produtividade, temos que conversar nossas matas para que as abelhas encontrem alimento, abrigo e estejam sempre presentes”, acrescenta.
Prova de que a integração do açaí com as abelhas dá certo é a experiência de Joaquim Cunha, que é meliponicultor (atividade de criação de abelhas-sem-ferrão) e produtor de açaí do município de Acará, no Pará. Ele tem seis hectares de açaí e cria diferentes espécies de abelhas-sem-ferrão.
“Quando a informação chega, a gente começa a perceber e observar mais as árvores na propriedade, os ninhos e o mundo ‘invisível’ das abelhas”, conta.
Ele diz que muitas vezes o agricultor quer aumentar seu plantio de açaí, mas sem observar que pode aumentar a produção sem abrir novas áreas.
“Quando conhecemos as abelhas e a importância delas para a produção de frutos, percebemos na prática que é melhor manter a mata do que derrubar para plantar mais açaí”, finaliza o agricultor.
Fonte: Embrapa Amazônia Oriental