Por Fabrício Queiroz
As altas temperaturas, o clima seco e a baixa ocorrência de chuvas durante o verão amazônico criam condições adversas para o desenvolvimento da agricultura nesse período. Enquanto o ciclo de chuvas não retorna, as principais recomendações para os agricultores da Amazônia são relacionadas aos cuidados com a cobertura e preservação da umidade do solo, que são determinantes para manter a fertilidade nos próximos cultivos.
O engenheiro agrônomo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater-PA) Jorge Gibson explica que um cuidado básico deve ser com a proteção do solo. Para isso, é importante que produtores rurais evitem a roçagem e capinagem do terreno. Isso porque a incidência excessiva dos raios de sol na terra prejudica os plantios e também pode acarretar em perdas de produtividade.
Caso o produtor opte por roçar, segundo o especialista, o ideal é não capinar e deixar o mato crescer com os resíduos da roçagem que podem se transformar em matéria orgânica e ainda mantêm a proteção do solo.
“A terra é o maior patrimônio do agricultor, então é preciso cuidar para que se plante e colha sempre”, ressalta Jorge Gibson.
No Pará, os próximos plantios devem ocorrer somente na estação chuvosa, porém antes disso inicia o trabalho de preparação do solo, etapa em que ainda é preciso enfrentar a cultura enraizada das práticas de derrubada, queima e plantio, que são prejudiciais à saúde do solo e ao meio ambiente, já que o clima seco favorece a propagação do fogo.
“Evitar a queimada é essencial porque, quando se queima aquele material da limpeza do campo, você acaba matando os microrganismos que vão trabalhar de graça na transformação da matéria orgânica e na fertilidade do solo. O correto é ‘acamar’ esse material que vai ser decomposto com a ajuda dos microorganismos”, esclarece Jorge Gibson.
“Acamar” nada mais é do que juntar em um ou mais pontos da propriedade os resíduos orgânicos daquela área onde ocorre o plantio. Em geral, os cortes maiores de madeira, por exemplo, podem servir para a produção de carvão, enquanto que as partes menores e outros resíduos podem se decompor naturalmente no ambiente, o que vai ajudar a aumentar a fertilidade do solo.
“Os solos dos municípios do nordeste paraense geralmente têm solos pobres e arenosos, ou seja, quando cai uma chuva intensa eles são lavados pela erosão e pela infiltração da água porque essa característica arenosa não cria barreiras para a água. A incorporação de matéria orgânica nesse solo vai fazer com que ele fique mais úmido e próprio para o plantio”, explica o engenheiro agrônomo.
Nessa lógica, a solução proposta é a produção de um composto com os recursos disponíveis na propriedade, como caroços de açaí, restos de roçagem, serragem, palha e folhas que quando misturados com esterco produzem um adubo orgânico que pode ser espalhado pela terra para ajudar a recuperar a fertilidade.
“Depois de produzido, o composto com essa matéria orgânica pode ser levado para o campo e incorporado no solo antes do plantio. É uma solução que vai melhorar as propriedades químicas e físicas do solo, que é tudo que a planta quer.”, pontua.
A decomposição e transformação dos resíduos em matéria orgânica dura cerca de 75 dias, por isso devem ser feitos antes do início da estação chuvosa. Ou seja, para os plantios previstos para dezembro, quando a região começa a entrar no regime de chuvas, o recomendado seria produzir o composto a partir de setembro. No entanto, o agrônomo pondera que o cenário de incerteza do clima pode alterar esse cronograma.