A adaptação às mudanças climáticas será um dos pilares da COP30, conferência que o Brasil sediará em Belém, Pará, em novembro. A afirmação foi feita pelo presidente do evento, embaixador André Corrêa do Lago, durante um evento em Brasília. Ele ressaltou a urgência de incorporar medidas de resiliência climática às políticas públicas, diante da frequência e da intensidade de eventos como tempestades, secas, incêndios florestais, entre outros.
Corrêa do Lago destacou a mudança de visão em relação à adaptação. No início, diz ele, muitos achavam que focar na adaptação era desistir de tentar reduzir os efeitos causado pela crise do clima. No entanto, os eventos climáticos extremos, como os ocorridos em Porto Alegre, evidenciaram a necessidade de ações preventivas. “Grande parte dos danos poderia ter sido evitada com a implementação de políticas de adaptação na infraestrutura., declarou ele no evento “Adaptação como Prioridade para a COP30”.
Por isso, a adaptação será um tema central na COP30, tanto nas negociações, com a discussão de indicadores globais, quanto na agenda de ação. Segundo ele, a agenda de ação será fortalecida em Belém, devido às limitações das negociações e ao contexto geopolítico atual.
As discussões trataram de temas como a necessidade de ações urgentes para aumentar a resiliência climática, promover a adaptação de forma justa e tratá-la como uma estratégia de desenvolvimento e transformação. Outro foco foi em financiamento para adaptação, incluindo o progresso do compromisso de dobrá-lo até 2025, e o roteiro Baku-Belém para US$ 1,3 trilhão de financiamento climático até 2035.
No evento, a diretora executiva da COP30, Ana Toni, destacou que o Brasil pretende liderar pelo exemplo.
“Estamos fazendo 16 planos setoriais e a Estratégia Nacional de Adaptação no âmbito do Plano Clima, que guiará a política climática brasileira até 2035. Temos o Fundo Clima, lançamos o AdaptaCidades para ajudar governos subnacionais a terem seus próprios planos e projetos diretos. Nossa plataforma nacional terá uma seção inteira dedicada à adaptação”, destacou Ana Toni.
A COP30, destacou a diretora da Conferência, terá quatro pilares: reunião de chefes de Estado, negociação, agenda de ação e engajamento e mobilização. O objetivo, completou, é que a adaptação seja abordada em todas essas frentes:
“Se queremos influenciar a COP30, precisamos pensar onde a adaptação, e especificamente o financiamento para adaptação, estará em cada um desses pilares”, declarou. “Como presidência da COP30, estamos tratando do tema em cada uma dessas frentes e esperamos trabalhar em conjunto com muitos atores para planejar o processo até Belém”.
A abertura foi realizada pela ministra Marina Silva, que destacou que, independentemente das visões negacionistas, a mudança do clima já instalada e combatê-la demanda uma transformação do modelo de desenvolvimento e das formas de financiamento.
“Adaptação não é só a gente fazer recuperação de mata ciliar, buscar soluções baseadas na natureza. É adaptar também os investimentos: quais são as novas linhas de crédito, de pensar seguros, de decretar emergência”, disse a ministra.
O evento reuniu representantes internacionais como a ex-secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês, Patricia Espinosa, o chair do grupo africano de negociadores e enviado especial para o clima da Tanzânia, Richard Muyungi, e o assessor especial para Mudança do Clima do BID, Avinash Persaud; integrantes da sociedade civil como a co-presidente do caucus indígena, Sineia do Vale, e a diretora executiva da organização Argentina 1.5ºC, Pilar Bueno; e especialistas como o cientista Carlos Nobre e o economista Sergio Margulis.