O Brasil propõe um mutirão global contra a mudança do clima para fazer da COP30 um momento da esperança e das possibilidades por meio da ação. A proposta contida em uma carta divulgada nesta segunda-feira, 10, pelo embaixador André Aranha Corrêa do Lago, presidente da conferência do clima que acontece em Belém, em novembro, destaca a importância de “um esforço” de todos os países para “reescrever um futuro diferente”.
“Devemos enfrentar a mudança do clima juntos e reativar nossas habilidades coletivas e individuais de resposta: nossas ‘responsa-habilidades’, diz o texto, que lembra 2024 como o ano mais quente já registrado globalmente e o primeiro em que a temperatura média global ultrapassou 1,5ºC acima de níveis pré-industriais.
Para Corrêa do Lago, é urgente aceitar “a realidade e combater a catástrofe, o cinismo e o negacionismo” porque se o aquecimento global não for controlado, a “mudança nos será imposta, ao desestruturar nossas sociedades, economias e famílias”.
“A COP30 será a primeira a ocorrer indiscutivelmente no epicentro da crise climática e a primeira a ser sediada na Amazônia, um dos ecossistemas mais vitais do planeta e que, de acordo com os cientistas, agora corre o risco de ponto de inflexão irreversível”, escreve a carta, que traz a visão e os objetivos do Brasil à frente a cúpula.]
Entrevista
Na entrevista coletiva que deu após divulgar a carta, Correa do Lago destacou três pontos importantes da carta. O primeiro deles é aumentar a relevância do multilateralismo. De acordo com ele, no momento complexo que o mundo vive, não se pode deixar que as negociações de clima se enfraqueçam, principalmente, quando a mudança do clima se faz presente.
O segundo ponto é assegurar que haja uma conexão entre a sociedade civil e as discussões que acontecem nas COPs. Para Correa do Lago, há uma percepção de que o que se discute nas conferências do clima não tem nada a ver com a vida real das pessoas.
O terceiro ponto é acelerar a implementação do Acordo de Paris. E, para isso, é muito importante a articulação com as demais estruturas internacionais, inclusive na área financeira.
“A Convenção do Clima e o Acordo de Paris são uma base muito boa, formal de negociação, mas, para essa implementação, nós precisamos do FMI, do banco mundial, de todo um movimento institucional, tendo em vista que a mudança do clima está atingindo a economia e a política. De maneira indiscutível cada vez mais, portanto, as soluções têm que vir dessas outras áreas.
Na entrevista, ele rebateu ainda críticas em relação à infraestrutura em Belém para acomodar a COP30, afirmando que tema está ganhando uma dimensão excessiva, já que a maioria das COPs tem problemas.]]
“Ninguém escolheu Belém porque era uma cidade brasileira que tinha muitos hotéis. O presidente da República escolheu Belém porque está na Amazônia, e isso é de um simbolismo imenso”, disse, salientando que os problemas serão solucionados e que a COP30 deixar um ótimo legado para a cidade.
Momento de virada
A carta cita a cultura brasileira para falar da urgência climática. Primeiro, explica o conceito de “mutirão” (“Motirõ” em tupi-guarani), que se refere a uma comunidade que se reúne para trabalhar em uma tarefa compartilhada, seja colhendo, construindo ou apoiando uns aos outros. Depois menciona o futebol para falar que a COP30 pode ser o pontapé inicial de uma nova década da luta contra a crise climática global e de como o Brasil acredita que podemos vencer essa briga “de virada”.
“Isso significa lutar para virar o jogo quando a derrota parece quase certa. Juntos, podemos fazer da COP30 o momento em que viramos o jogo, quando colocamos em prática nossas conquistas políticas e nosso conhecimento coletivo sobre o clima para mudar o curso da próxima década. A COP30 pode ser a COP em que alinharemos esforços em todo o mundo: dos governos nacionais aos municipais, dos mercados de capitais internacionais às pequenas lojas de bairro, dos principais agentes tecnológicos aos inovadores locais, dos conhecimentos acadêmicos aos tradicionais.
Em termons práticos, para fortalecer a governança global e acelerar a tomada de decisões e ações contra as mudanças do clima, a COP30 propõe a criação de dois grupos de colaboração.
Reunião de presidências
O primeiro, o “Círculo de Presidências”, reunirá os líderes das COPs anteriores (COP21 a COP29), além dos presidentes das convenções sobre biodiversidade (CBD) e desertificação (UNCCD), as outras COPs existentes. O objetivo é aproveitar a experiência e o conhecimento acumulado dessas lideranças para orientar o processo político e a implementação de ações climáticas, garantindo a continuidade dos legados das COPs anteriores e abordando os desafios atuais e futuros da governança climática global, visando também alinhar as agendas de clima, biodiversidade e combate à desertificação, otimizando recursos e ações.
O segundo grupo, o “Círculo de Liderança Indígena”, reunirá líderes de povos indígenas para garantir sua participação e representação na COP30, integrando os conhecimentos e a sabedoria tradicional dos povos indígenas à inteligência coletiva global na luta contra as mudanças climáticas. Essas iniciativas visam promover a colaboração, o aprendizado mútuo e a ação coordenada entre diferentes atores para enfrentar os desafios das mudanças climáticas de forma eficaz e inclusiva.
Financiamento
Em relação ao financiamento climático, a presidência da COP30 espera trabalhar com a presidência da COP29 na liderança do “Mapa do Caminho de Baku a Belém para 1,3T”, um plano estratégico que visa mobilizar durante evento em Belém US$ 1,3 trilhão para ajudar os países em desenvolvimento a enfrentar a crise do clima.
“Os especialistas estão sendo claros: temos apenas alguns anos. Para que os objetivos climáticos sejam alcançados, o financiamento da adaptação e da mitigação precisará ser aumentado exponencialmente”, diz a carta.