Um relatório da Human Rights Watch (HRW), organização não governamental, divulgado na quinta-feira, 16, aponta o contraste entre os avanços na proteção ambiental alcançados pelo Brasil em 2024 e os elevados investimentos do país em combustíveis fósseis. Na 35ª edição de seu relatório mundial “Recuo e Resistência em Tempos Sombrios”, que analisa os direitos humanos em mais de 100 países, a ONG destaca que o Brasil, prestes a sediar a Conferência do Clima da ONU (COP30), tem a oportunidade de liderar pelo exemplo, unindo esforços contra o desmatamento e promovendo uma transição energética sustentável.
No documento, a HRW reconhece medidas importantes adotadas pelo governo federal, como a redução de 31% no desmatamento entre agosto de 2023 e julho de 2024, comparado ao período mesmo período do anterior. No entanto, ressalta que o Brasil ainda é um dos “10 maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo”.
“A liderança brasileira na COP 30, marcada para novembro em Belém, deve ser pelo exemplo”, diz a organização, que também pede o fim de pesquisas e investimentos em fontes de energia não renováveis. Para a HRW, o Brasil tem potencial para ser referência mundial, mas a continuidade de políticas que priorizam petróleo e gás ameaçam o protagonismo brasileiro.
Combustíveis fósseis
O relatório também aponta que, entre 2023 e 2026, o governo planejou R$ 288 bilhões em investimentos em petróleo e gás, enquanto apenas R$ 87 bilhões foram destinados a energias renováveis – todos provenientes do setor privado.
“O governo Lula deveria fazer a sua parte para limitar o impacto devastador das mudanças climáticas sobre pessoas e comunidades, iniciando imediatamente uma eliminação gradual e justa dos combustíveis fósseis e ampliando as proteções para as florestas e os povos que dependem delas para sobreviver”, destacou a organização.
Laura Canineu, vice-diretora global de Meio Ambiente da HRW, também reforça o papel estratégico do Brasil na luta contra a crise climática. “O Brasil ambiciona-se um gigante da sustentabilidade. […] Dessa forma, ele tem uma enorme responsabilidade de liderar pelo exemplo. No entanto, essa liderança é ameaçada quando o governo prioriza a expansão de petróleo e gás – inclusive na foz do rio Amazonas”, pontua Canineu.