Por Fabrício Queiroz
Com a realização das principais procissões do Círio de Nazaré 2024, o setor turístico de Belém já vislumbra os próximos grandes eventos que a cidade vai receber em 2025: o próprio Círio, em outubro, e a COP30, em novembro. A expectativa é que o impacto econômico seja ainda maior no ano que vem, assim como os desafios que a organização enfrentará em uma agenda de importância global como a conferência do clima.
De acordo com as projeções do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos do Pará (Diieese-PA) e da Secretaria de Estado de Turismo (Setur), o Círio atraiu 89 mil turistas brasileiros e estrangeiros, cerca de 11% a mais do que no ano passado. No mesmo ritmo segue a estimativa de gastos que gira em torno de R$ 189 milhões, o que representa um aumento de 13% em relação a 2023.
O reflexo disso pode ser notado nos serviços de hotelaria, alimentação e mobilidade, que tiveram alta procura nos últimos dias. Somente os hotéis da cidade tiveram lotação de 95% a 100%, dependendo da proximidade em relação ao trajeto das romarias, informa a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Pará (ABIH-PA).
A expectativa é que a participação do setor na economia cresça com o surgimento de novos empreendimentos previstos para a COP30, que, segundo informações oficiais, espera receber cerca de 50 mil visitantes de fora do estado.
Por essa razão, uma das metas da organização foi a busca de soluções e investimentos para aumentar a oferta de leitos, com criação de hotéis de alto padrão, dragagem do Rio Guamá para permitir a chegada de navios de cruzeiro e parceria com a plataforma Airbnb.
“A rede hoteleira estará mais modernizada e com mais leitos. Entendo que o próximo ano será um divisor de águas no turismo do Pará. Estaremos com uma grande exposição em nível mundial e estaremos mais preparados para receber quem nos visita”, afirma o presidente da ABIH-PA, o empresário Tony Santiago.
Desafios da cidade
Se por um lado a experiência com o Círio é vista como uma vantagem para a recepção das delegações estrangeiras, há setores que alertam para as peculiaridades que a preparação para a COP30 demanda, já que o público, apesar de bem inferior em comparação com as procissões, tem uma série de necessidades distintas.
Para Fernando Soares, assessor jurídico do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Pará (SHRBS), a questão do déficit de leitos deve ser resolvida com as medidas propostas pelo governo, no entanto, outros aspectos merecem atenção. Alguns desafios incluem a baixa qualificação dos prestadores de serviço para atender o público internacional, os problemas de mobilidade na capital e a diferença do público que deve ser formado por mais estrangeiros. Para ele, são fatores que podem complicar atividades corriqueiras como a comunicação, o pagamento por serviços e a alimentação.
“Por mais que Belém seja uma cidade criativa da gastronomia, existem povos e civilizações que têm culturas diferentes na alimentação, como judeus e muçulmanos. Eu não sei se a dieta à base de maniçoba e tucupi vai ser satisfatória para todo mundo. Para exibir nossa gastronomia não se pode criar problemas alimentícios para outras pessoas”, pondera Fernando Soares.