A menos de dois anos para a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) em Belém, o evento já mobiliza diferentes atores dos meios político, da iniciativa privada e da sociedade civil interessados nos legados que o Brasil e a Amazônia devem dar para a agenda climática global. Com a realização no país de programações do G20, o grupo que reúne as maiores economia do mundo, inúmeros debates já estão vindo à tona.
Uma das autoridades que esteve recentemente no Brasil foi a diretora da Fundação Europeia do Clima, Laurence Tubiana. Ela foi embaixadora da França para Mudanças Climáticas e representante especial para a COP21, sendo uma das figuras importantes na articulação do Acordo de Paris.
Para Tubiana, um dos aspectos que merece atenção é o chamado financiamento climático. Nesse sentido, ela tem atuado em uma força-tarefa com o objetivo de mobilizar recursos para que países vulneráveis e em desenvolvimento possam investir em uma transição para uma economia de baixo carbono.
“Sabemos que existem fluxos de atividades que não têm contribuído no âmbito fiscal e que deveriam contribuir, pois se trata de um problema coletivo, sobretudo para os países em desenvolvimento que precisam desses recursos adicionais”, disse a diretora em entrevista à Agência Brasil.
A diplomata destacou alguns avanços nesse campo, exemplificando com o Plano de Transição Ecológica, apresentado no ano passado pelo Brasil e coordenado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Em sua avaliação, a proposta é capaz de impulsionar o desenvolvimento e promover a preservação ambiental e o combate às mudanças climáticas.
Outro aspecto citado por Laurence Tubiana é a necessidade de fomento à participação social. Para isso, ela considera que a COP30 pode ter um impacto decisivo se apostar no diálogo com as populações originárias da região.
“Acredito que as comunidades indígenas da Amazônia têm muito para contribuir, sobretudo no combate às mudanças climáticas e na proteção da biodiversidade. Elas precisam ocupar um espaço não apenas simbólico na definição de um plano nacional”, ressalta.
Também no contexto dos debates do G20, o CEO da Unilever, Paul Polman, avaliou a importância da COP30 para o futuro do debate climático. Para ele, o Brasil saiu na frente ao lançar o Plano de Transição Ecológica e por já contar com uma matriz energética em grande parte baseada em energia limpa.
Polman, no entanto, considera que é preciso um esforço coletivo, envolvendo governos, sociedade civil e setor privado e atuar de forma estratégica para que o projeto não seja desgastado pela tensão política ou ainda pelo populismo e nacionalismo.
Apesar de criticar a escolha do Arzebaijão para sediar a COP29 devido à falta de planos de descarbonização e ao histórico de violações de direitos humanos no país, o CEO diz que a Conferência terá um papel importante em razão da crise do clima ser urgente. No entanto, Paul Polman ressalta que as maiores expectativas estão voltadas para o encontro de 2025, em Belém.
“A COP30 é provavelmente nossa última oportunidade. É por isso que é tão importante que o Brasil comece agora sua transformação ecológica, para mostrar que é possível. Pode realmente, já nos próximos 18 a 24 meses, estabelecer um padrão em muitas destas áreas, e depois tornar-se uma economia muito competitiva”, disse o empresário ao Valor Econômico.