A mudança nos planos da organização da COP30 que cancelou a licitação para dragagem do Porto de Belém expõe as carências do Porto de Outeiro, onde o calado do rio é maior tornando possível a ancoragem dos navios de cruzeiro. No local, há cerca de 30 km do centro da cidade, as casas próximas à praia dependem de fossas cavadas no chão e um processo de erosão impede a permanência de muitos moradores às margens do rio.
“Eu uso a água dos poços de dois vizinhos. A água da Cosanpa [Companhia de Saneamento do Pará] não tem qualidade, ela vem turva, amarela”, contou à Folha de São Paulo o estudante Filipe Miranda, 26, que mora com a esposa no bairro Brasília ao lado do porto do distrito.
Além do fornecimento de água imprópria para o consumo, a população enfrenta outros desafios. Até poucos anos, as ruas do entorno do porto não eram asfaltadas, por exemplo. A falta de segurança, o acúmulo de lixo, esgotos entupidos e ruas sujeitas a alagamentos também fazem parte do cenário agravado pela erosão na área.
Segundo os moradores, o avanço do fenômeno faz com que a rua paralela fique intransitável quando a maré está cheia. Quando a maré baixa, o problema é o aumento do lixo trazido pelas águas, sem contar o risco para a segurança. Algumas pessoas já precisaram mudar de casa para áreas distantes.
“Já ouvi falar sobre projeto do governo para segurar esse barranco, mas nada foi feito. Gosto de ficar aqui, é fresco por causa do vento”, relatou a autônoma Priscila Vieira, 36, que se mudou do bairro.
Esperança
Para a comunidade, a esperança é que a inclusão de Outeiro nos planos da COP30 traga visibilidade e investimentos para a melhoria dos serviços básicos no distrito.
Em nota, o Governo do Pará afirmou que já são realizadas obras de pavimentação, drenagem superficial e profunda, terraplanagem, sinalização e implantação de calçadas no local. Sobre a qualidade da água distribuída na região, foi informado que testes recentes comprovam o cumprimento dos padrões estabelecidos pelo Ministério da Saúde.
A utilização do Porto de Outeiro foi a alternativa encontrada para evitar os impactos ambientais da dragagem e garantir que navios de grande porte atraquem em Belém e aumentem a oferta de leitos durante a COP30. De acordo com a Folha, o governo já tem contato com duas operadoras em oferecer o serviço para cerca de 4.500 hóspedes.