Foi no Pará que a luta de uma mulher chamada Pureza Lopes Loyola fez história e virou enredo de filme que estreia nesta quinta-feira, 19/05, em cinemas de todo o Brasil. Em 1993, no Maranhão, a trabalhadora rural ficou sem notícias do filho, vendeu tudo o que tinha e saiu em uma jornada de três anos à procura dele. No trajeto se deparou com trabalhadores vítimas de maus-tratos e em situação semelhante à escravidão.
O reencontro de mãe e filho aconteceu três anos depois no Pará, quando ele conseguiu fugir de uma fazenda da região. A saga dessa maranhense foi parar no cinema. O diretor Renato Barbieri diz que o filme Pureza levou 12 anos para ficar pronto. Ele, que trabalha há décadas com temas ligados à escravidão, conheceu os detalhes dessa busca por meio de um amigo fotógrafo, e se inspirou na coragem de dona Pureza para contar a história.
A atriz Dira Paes vive dona Pureza à procura do filho. De fazenda em fazenda, Pureza ouviu relatos dramáticos de trabalhadores que poderiam ser mortos se tentassem se rebelar ou fugir.
Com a ajuda da Comissão Pastoral da Terra (CPT), ela entrou em contato com o Ministério do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho no Maranhão, no Pará e em Brasília. Chegou a escrever cartas para três presidentes da República: Fernando Collor, Itamar Franco (o único que lhe respondeu) e Fernando Henrique Cardoso. Até hoje, ela guarda uma cópia de cada uma dessas cartas.
A batalha de Pureza para encontrar Abel deu impulso decisivo à criação, em 1995, do Grupo Especial Móvel de Fiscalização, que uniu auditores-fiscais do trabalho, policiais federais e procuradores do trabalho para viabilizar o cumprimento da lei e a observância de direitos trabalhistas em todo o território nacional. Em 1997, Pureza recebeu em Londres o Prêmio Anti-Escravidão da Anti-Slavery International, a mais antiga organização de combate ao trabalho escravo em atividade no mundo.
Hoje, ela vive com seu filho Abel em Bacabal (MA). O longa é vencedor de 28 prêmios nacionais e internacionais e a história dessa mãe se tornou um símbolo do combate ao trabalho escravo contemporâneo.
Violência choca
Em suas redes sociais, Dira Paes mostrou indignação no dia 17/05 diante da violência em Altamira.
“O que faz uma região do Brasil não chocar um país inteiro com ao menos 12 mortes nos últimos 15 dias? Não falo de uma grande metrópole, falo de Altamira, cidade do Sudoeste do Pará com um pouco mais de 100 mil habitantes. São execuções, chacinas, descaso do poder público. O que tá sendo feito”, questionou a atriz.
O governador Helder Barbalho (MDB) afirmou no domingo, 15/05, que as 12 execuções registradas em duas semanas em Altamira (PA) podem estar ligadas a conflito entre facções criminosas na cidade. No sábado, 14/05, quatro pessoas foram mortas na porta de uma distribuidora de bebidas na cidade.
“Não é a primeira vez que Altamira mergulha no medo, que a população fica refém de violências extremas e no fim das contas, nada é feito efetivamente para que a cidade possa respirar aliviada”, protestou Dira Paes em sua conta no Instagram. A atriz compartilhou no post o nome de todas as vítimas e como foram mortas.
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