A área do Complexo do Ver-o-Rio, às margens da baia do Guajará, está ganhando uma nova cara com a criação do Museu de Arte Urbana de Belém (MAUB). Desde o Dia da Amazônia, comemorado em 5 de setembro, 21 artistas trabalham a todo vapor na criação de diversas obras que vão compor a paisagem do espaço que deve se tornar o maior museu a céu aberto do Norte do Brasil.
O projeto busca valorizar o movimento do grafite, as artes plásticas e a Street Art no Pará, oferecendo uma vitrine para exposição dos talentos e também uma nova atração turística para a capital que se prepara para receber a COP 30 em 2025.
A inauguração do MAUB está marcada para o dia 24 de setembro, mas quem visita o Complexo do Ver-o-Rio já tem uma prévia do que poderá ser apreciado. Os muros, fachadas e paredes de prédios das empresas no entorno já estão ganhando as formas, mensagens e cores idealizadas pelos artistas.
Uma das atrações será um painel 22 metros de altura por 56 de largura. Mas o Museu conta com inúmeros destaques. Grafismos típicos das populações originárias, a tipografia característica das embarcações da região, referências às lendas e ao imaginário local, paisagens que remetem aos rios, à floresta e à vida urbana da Amazônia estão presentes em diversas obras do projeto.
Espaço de diversidade
Entre os 21 artistas selecionados, 12 nortistas, sendo nove paraenses. Outros três são do Nordeste, cinco do Sudeste e um do Centro-Oeste. Vale ressaltar ainda que a maioria é de mulheres. O resultado é um espaço que reflete a diversidade de vivências e inspirações.
“Eu busco transmitir a minha terra de origem que é essa aqui. Eu sou amazônida, então eu falo das lendas, da parte mística com uma moça que está sendo mundiada pela cobra”, descreve a ilustradora, designer e professora de Artes Visuais Cely Feliz, lembrando do poder de encanto e sedução que algumas figuras do imaginário local têm sobre as pessoas.
De origem marajoara, Cely ressalta que busca construir a marca do seu trabalho a partir do diálogo entre as referências regionais e a linguagem artística que se popularizou nos grandes centros urbanos.
“A gente busca essa identidade. Não só aquele estilo novaiorquino, que não nos serve. O grafite onde quer que ele chegue, ele se contextualiza com o seu lugar e se transforma e vai se ressignificando”, comenta a artista.
Natureza e maternidade
Já as criações de Isabela Lima, mais conhecida como Mama Quilla, abordam principalmente questões relativas à natureza e à vida na região, o sagrado feminino e a maternidade. A obra criada no MAUB, por exemplo, traz uma homenagem ao filho Eros, de 6 anos, que é uma criança diagnosticada dentro do espectro autista.
“A maternidade foi uma das coisas que me impulsionaram a tomar coragem e a seguir a arte porque eu sou engenheira ambiental”, conta Mama Quilla, que gosta de usar a arte como estratégia para estimular a criatividade e o desenvolvimento do filho.
Para ela, o Museu evidencia o fortalecimento da arte urbana e possibilidade ampliar as conexões com artistas de outras regiões.
“Aqui tem tanto artistas locais quanto artistas de outros estados. Eu vejo que tem que valorizar muito mais os artistas locais, porém é importante trazer outros artistas do Brasil todo para fazer essa troca e para que eles também possam entender a cultura local e a importância da preservação da nossa história e da Amazônia como um todo”, afirma Mama Quilla.
A inauguração do MAUB será marcada pela realização de um festival com música, esporte e gastronomia. Para conferir o processo de criação das obras, basta visitar o Complexo do Ver-o-Rio, que fica na avenida Marechal Hermes, nº 1374, no bairro do Umarizal. Mais informações no site.
Por Fabrício Queiroz