A novela “Pantanal” tem levado às telas a importância da preservação ambiental, bem como outros temas fundamentais para nossa sociedade, como o combate ao racismo e à homofobia. Um dos recentes capítulos discutiu a implantação do sistema agroflorestal na fazenda do personagem José Leôncio, interpretado pelo ator Marcos Palmeira.
“Sem dúvida, a agrofloresta pode ser uma solução muito interessante, (assim como) a permacultura. A gente tem de romper com esse conceito de que só (serve) para propriedades pequenas. Os grandes fazendeiros têm que ter um outro olhar para suas próprias terras”, disse o ator em entrevista ao jornal “Estadão”. “Uma floresta em pé é muito mais rica que uma floresta deitada.”
Ele participou também da primeira versão da novela, 32 anos atrás, produzida pela extinta TV Manchete. O ator disse que a diferença de paisagem no Pantanal nessas três décadas é visível.
“A diferença é perceptível da primeira temporada para essa. Era uma época de cheias. E agora a gente está numa época de mais de dois anos de seca constante, com queimadas violentas todos os anos. É muito clara a presença do homem e a sua interferência empobrecendo o bioma”, disse.
A relação do ator com questões da terra começou quando ele tinha 16 anos. Palmeira passou uma temporada de dois meses na aldeia Xavante de São Pedro (MT), onde recebeu o nome indígena de Tsiwari, ou “o Filho Valente”. Também passou 30 dias pela região dos povos indígenas Arara, de Volta Grande do Xingu, próxima a Altamira.
“Minha experiência com os índios me trouxe outro olhar para o meio ambiente, o entendimento da importância que as comunidades indígenas têm no Brasil como um todo e que a gente valoriza muito pouco”, disse o ator.
Ele cultiva até hoje sua paixão pelo campo, como agricultor de uma fazenda de 200 hectares em Teresópolis, Região Serrana do Rio.
“Como produtor rural, quando fui trabalhar com a agricultura orgânica, entendi o que significa a palavra sustentabilidade, agrofloresta, biodinâmica, permacultura”, disse Palmeira. “Foi aí que entendi esse maravilhoso mundo dos orgânicos, da minha experiência com a fazenda, de uma situação muito simples, quando descobri que um funcionário não comia aquilo que ele estava plantando. Aí as fichas todas caíram e entendi o que que era aquele agrotóxico.”
Na entrevista, ele lamentou o processo de destruição pelo qual passa o Pantanal, retratado pela novela com imagens de fogo destruindo o bioma.
“Uma imagem como aquela fala por mil palavras. O público se identifica e entende, consegue ver que o Pantanal realmente está sofrendo e precisando de ajuda”, disse.
Palmeira fez uma espécie de alerta a produtores rurais que se recusam a assumir que as mudanças climáticas, com alterações nos períodos de chuva e estiagem, têm levado vários danos ao meio ambiente.
“As pessoas hoje estão mais conscientes, mas ainda é muito longe do entendimento real da urgência do que a gente está vivendo. Ainda se fala muito que são crises, são ciclos, só que a gente não percebe que os ciclos são cada vez menores. É um espaço de tempo mais curtos e entre um ciclo e o outro, não tem nenhuma interferência do homem para evitar que se repita”, afirmou Marco Palmeira.
Sistema agroflorestal
Um sistema agroflorestal é uma forma de uso e ocupação do solo em que árvores são plantadas ou manejadas em associação com culturas agrícolas ou forrageiras. Em outras palavras, é um sistema em que o produtor planta e cultiva árvores e produtos agrícolas em uma mesma área, garantindo a melhora de aspectos ambientais e a produção de alimentos e madeira.
Para ser um sistema agroflorestal efetivo, é importante que esse sistema seja desenhado seguindo uma lógica de produção, levando em consideração solo, clima, mercado, composição de espécies, arranjos, operação, objetivo com a produção, custos e a legislação. O objetivo é garantir que as espécies trabalhem juntas. Por exemplo, algumas espécies agrícolas já consolidadas, como cacau, café ou erva-mate, crescem bem na sombra de árvores. O produtor pode combinar esses plantios com árvores como araucárias, seringueiras, açaizeiros, entre outras.
Os benefícios econômicos para os produtores são múltiplos. Primeiro, eles garantem renda ao longo do tempo, porque podem comercializar primeiro as espécies agrícolas de crescimento rápido, depois espécies de médio prazo, como as frutíferas e, no longo prazo, as espécies madeireiras de alto valor agregado. As árvores plantadas no sistema também podem funcionar como uma “aposentadoria” para agricultores familiares – elas podem demorar décadas para crescer e serem comercializadas, mas quando chega a hora da colheita, proporcionam um bom retorno do investimento inicial.
As vantagens ambientais também são grandes. As árvores têm importante papel na redução da degradação, melhora da qualidade do solo e da água da propriedade, entre outros.
Fonte: “Estadão” e WRI Brasil