O desenvolvimento de uma cultura empreendedora que tenha como foco não apenas gerar lucro, mas também resolver os problemas prementes da Amazônia – manter a floresta de pé e gerar prosperidade para suas populações – pode ser uma das chaves para fomentar a mudança no modelo de desenvolvimento da região.
A conservação da Amazônia demanda, claro, medidas urgentes e perenes de comando e controle dos governos. Mas, ao mesmo tempo, precisa de investimento que possibilite o desenvolvimento da bioeconomia. Coisa que não aconteceu em tempos passados, quando o desmatamento caiu sensivelmente, mas essa nova economia não se desenvolveu na medida necessária para se mostrar competitiva em relação à degradação da floresta.
Temos agora a oportunidade e a necessidade premente de avançar nessa direção. E os chamados negócios de impacto com atuação na Amazônia são peças importantes dessa equação. Aqueles que, além do lucro, se preocupam em gerar impacto positivo para a floresta e seus povos.
Boa parte deles começa a se enxergar agora como negócio de impacto, uma tipologia relativamente nova no Brasil, e também na Amazônia. Segundo o 3º Mapa de Negócios de Impacto, elaborado pela Pipe.Labo a partir de dados autodeclarados por negócios, só 5% dos empreendedores de impacto estão localizados na região Norte do país.
Esses negócios estão em grande parte ligados a produtos alimentícios, cosméticos e artesanato. Nos últimos anos, entretanto, vimos, além deles, surgirem negócios nas áreas de logística, serviços e web.3 (criptoativos e blockchain). Eles se encontram em diversos estágios de desenvolvimento, necessitando de apoio em diferentes frentes e intensidades para ganhar tração e/ou escala e ampliar o impacto positivo para a floresta.
Se em 2021, a maioria dos negócios de impacto com atuação na Amazônia que passaram pelo nosso radar estava relacionada às cadeias produtivas de açaí e outras palmeiras, turismo sustentável, artesanato e castanha, esse perfil vem mudando ao longo dos últimos anos.
Em 2022, já surgiram negócios focados em produtos e serviços socioambientais, artesanato, arte e moda sustentável, soluções tecnológicas e produtos alimentícios, nesta ordem. Neste ano, o foco maior parece estar em produtos e serviços ambientais e soluções tecnológicas, seguidos pelas cadeias de açaí, outras palmeiras e produtos alimentícios.
Ao mesmo tempo em que existe um movimento de maior oferta de capital para projetos e negócios da sociobiodiversidade, os empreendedores estão se enquadrando e testando possibilidades de alcance de recursos.
As áreas de produtos e serviços socioambientais são, tradicionalmente, aquelas em que atuam um maior número de associações e cooperativas. Geralmente têm necessidades de capital específicas, tais como compra de safra, expansão de capacidade produtiva e assessoria comercial. Iniciativas com baixo risco, mas com retorno financeiro pequeno ou nulo. Parece estar havendo uma migração de associações e cooperativas na busca de capital nas modalidades de doação e/ou empréstimo.
Iniciativas com maior risco e expectativas de maior retorno financeiro e de impacto geralmente buscam fontes com os mesmos critérios de preferência por investimento. Aí estão alocados projetos de serviços ambientais, geralmente lastreados em carbono e/ou outros ativos tokenizáveis. Também é relevante o número de startups mais tradicionais, de forte base tecnológica e digital, que buscam adaptar seus modelos de negócio ao impacto.
O ecossistema de impacto ainda está se consolidando na Amazônia. Em que pese a ampliação de oportunidades de aceleração e investimento nos últimos anos, é importante termos em mente que os negócios de impacto, sozinhos, não resolverão as questões prementes do desenvolvimento dessa sociobiodiversidade e da valorização da floresta em pé.
Há, para além do papel de investidor/fomentador de negócios de impacto, um papel adicional de pedagogia dialógica. Não é suficiente o capital, embora extremamente necessário, para a constituição de um constelação forte de estrelas dos bionegócios de impacto.
Este esforço deve ser contínuo, é preciso estar disponível para tirar dúvidas e, ao fim do processo, os não investidos precisam entender de que forma podem estar aptos para futuras oportunidades. Para migrar de um modelo de ecossistema que fomenta para outro que aprende, é necessário que os seus atores estejam dispostos a garantir transparência e clareza nos processos de seleção.
Precisamos atuar juntos, iniciativa privada, governos, academia, organizações da sociedade civil, filantropia, enfim. Ampliar a cultura empreendedora nas cadeias da sociobiodiversidade amazônica ao mesmo tempo em que os órgãos competentes atuam na cadeia de comando e controle para coibir o desmatamento da Amazônia. Criar condições de financiamento e investimento pacientes para os diversos perfis de negócio que atuam nessas cadeias, em serviços e logística para a região.
A atuação conjunta com as redes locais e regionais da Amazônia tem também se mostrado importante para fortalecer esse ecossistema e dar cada vez mais condições para que esses negócios de impacto se multipliquem e gerem o impacto positivo que a floresta precisa para se manter de pé.
Fonte: Por Mônica C. Ribeiro e Rafael Ribeiro Moreira/Amaz
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