Por Sidney Alves
Guerra em pleno século 21 é o que o mundo não merecia. Mortes, destruições e deslocamentos intensos de populações desamparadas só ampliam a crise em que todos já estamos metidos, especialmente depois de uma pandemia. Mas Rússia e Ucrânia estão em guerra desde quinta-feira, 24/02, gerando reflexos do Pará ao Japão. Um dos primeiros deles é o aumento da inflação, conforme você leu mais cedo aqui, porque a Rússia é uma potência na produção de petróleo, que oscila nesses momentos de instabilidade, aumentando o preço dos combustíveis.
Mas há outros desdobramentos também. Pensando nisso, o Pará Terra Boa conversou nesta sexta-feira, 25/02, com Cassandra Lobato, coordenadora do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado do Pará (CIN/FIEPA), para entender como o Pará poderia ser afetado.
Segundo ela, a economia paraense poderia até se beneficiar com a venda de produtos da nossa cadeia produtiva para países que negociam com a Rússia e Ucrânia, uma vez que os fornecimentos de produtos do agronegócio desses países ficam comprometidos, em que pese todo o prejuízo mundial. Os militares da Ucrânia suspenderam as operações em seus portos após forças russas invadirem o país por terra e mar.
“No nosso Estado, pode-se sentir de maneira interna na sua economia. Porém, no quesito das exportações e acompanhando o cenário brasileiro, acreditamos que as exportações poderão aumentar, no caso do Brasil, poderá atender a outras demandas de outros países que são clientes da Rússia, principalmente na questão dos grãos e minérios”, afirmou.
Cassandra vê também uma janela para o Brasil, consequentemente o Pará, reforçar usa balança comercial com a China, já que a Rússia, de alguma maneira interditada, poderá ter dificuldades de manter seus negócios com os chineses.
“O Brasil já atende a China e podemos intensificar este atendimento. Podemos ver isto como uma oportunidade econômica de tentar fidelizar os clientes, que nós já possuímos ou para ampliarmos a nossa cesta de mercados alvos já conquistados no mercado internacional”, disse ela.
Mas como se trata de um momento de guerra, em que a Rússia mantém bombardeios contra alvos da Ucrânia, não dá para cravar nada. O que se sabe é que com a disparada do preço do petróleo, os valores dos alimentos tendem a subir para os consumidores.
“No contexto macroeconômico podemos observar este impacto na economia de todo o mundo. E quando observamos que houve um crescimento no valor do preço do petróleo, imediatamente, os valores dos preços dos alimentos também vão crescer, como os dos grãos, entre eles o trigo e o milho. Sobe o preço do gás natural, o dólar sobe, ou seja, todo este contexto de insegurança que a guerra traz, acaba afetando toda esta cadeia”, acrescentou.
Pará-Moscou
A relação comercial entre a Rússia e o nosso Estado está em crescimento, segundo informou, em 16/02, o jornal O Liberal.
A publicação informa que, de acordo com dados da Fiepa, foi exportado da Rússia para o Pará em 2020, em valores, US$ 79,5 milhões, ultrapassando os US$ 123,5 milhões em 2021, alta de 55,31% no período de um ano.
Apesar desse crescimento, o Pará está na 13ª posição entre os Estados que mais importam da Rússia, comprando apenas 2,17% do total comprado pelo Brasil daquele país. Os principais produtos são: fertilizantes, cloridrato de potássio e outros relacionados com o agronegócio e indústria, que passaram a ser importados em maior quantidade no ano passado.
De solo paraense para lá, segundo Cassandra, sai soja para a Rússia, que, em 2021, respondeu por 99,84% do total exportado aos russos, bem como sucos de frutas, alumina e castanha-do-Pará. Os russos renderam aos cofres do Pará US$ 111 milhões com comércio de soja em 2020, caindo para US$ 42 milhões em 2021.
Agro paraense
O jornal também ouviu o zootecnista Guilherme Minssen, da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado do Pará (Faepa). Ele lembra que o agronegócio brasileiro exporta para mais de 400 países, e o paraense para cerca de 250 destes. Entretanto, embora o mercado russo seja gigantesco, um ponto negativo da relação, segundo ele, é que eles pagam valores menores aos praticados pela concorrência na maioria das vezes.
“Tem algumas plantas liberadas para vender carne, mas não tem tido muitos negócios devido ao preço que eles querem pagar, não fecha a conta”, afirma ao “O Liberal”.
Ele diz, porém, que a relação bilateral é sólida.
“A Rússia situa-se, tradicionalmente, entre os 15 maiores parceiros comerciais do Brasil. O intercâmbio bilateral em 2021 foi de US$ 7,3 bilhões. O comércio é complementar e concentrado na cadeia do agronegócio. Do lado brasileiro, soja, carnes, amendoim, café e açúcar são responsáveis por grande parte da pauta, enquanto a Rússia tem nos fertilizantes o principal produto de exportação para o Brasil. Há interesse em ampliar e diversificar o intercâmbio com produtos de maior valor agregado, consoante o nível de desenvolvimento das duas economias”, disse o zootecnista ao jornal.
Como o Brasil é bastante dependente do fertilizante produzido na Rússia, um momento de guerra como este escancara a urgência de o Brasil desenvolver sua própria capacidade de produção, sem sacrificar o meio ambiente e populações indígenas, ou diversificar seus fornecedores.
Fontes: O Liberal e Fiepa
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