Por Fabrício Queiroz
A realização recente de grandes eventos na capital paraense trouxe à tona os desafios que Belém deverá enfrentar para sediar a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), em 2025.
Com uma rede hoteleira com capacidade para atender de 17 mil a 25 mil hóspedes, de acordo com representantes do setor, um dos pontos em debate é como fazer a cidade comportar o público previsto para o encontro internacional, que pode chegar a até 70 mil pessoas, segundo estimativas.
Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – Seção Pará (ABIH-PA), Tony Santiago, a grande movimentação observada em virtude dos Diálogos Amazônicos e da Cúpula da Amazônia trouxe ânimo para o setor.
Em comparação com agosto do ano passado, foi registrado um aumento de 72% nas hospedagens nesse período, impulsionada principalmente pela busca por hotéis de três a cinco estrelas, onde ficaram alocadas as delegações dos chefes de Estado.
Este é justamente um dos pontos frágeis do segmento, que é a baixa oferta de suítes presidenciais. Atualmente, Belém contaria com apenas cinco leitos desse tipo, porém, Santiago avalia que o problema foi contornado com a utilização de suítes VIPs e Master.
“A hotelaria já está se preparando para atender esse item e poder receber mais autoridades. Já foi anunciado que teremos acesso a linha de crédito que vai permitir fazermos as melhorias e investimentos necessários”, comenta.
E o desafio não é apenas qualitativo, mas também quantitativo. Como receber 70 mil visitantes com aproximadamente 17 mil leitos disponíveis, segundo ABIH-PA?
“Não há tempo para o surgimento de novos hotéis. O que vai acontecer é que esses recursos de financiamento serão utilizados para construção de novos leitos nos locais que já existem. Além disso, vamos ter hotéis sendo inaugurados no interior, como é o caso de Castanhal. Também podemos utilizar as residências de alto padrão para servirem de hospedagem por meio de plataformas. É nesse sentido que as coisas vão andar”, adianta Tony Santiago.
Outra proposta discutida envolve a acomodação de participantes em navios ou ainda contar com o suporte de municípios próximos.
“Podemos utilizar a rede de Salinas e outros entornos de forma semelhante ao que ocorre entre Parintins e Manaus, onde uma companhia aérea oferta voos bate e volta diariamente. Salina seria importante nessa estrutura porque já conta a segunda maior rede hoteleira do estado, com seis mil leitos, além de já ter voos e aeroporto operando. Podemos pegar essa experiência dos nossos vizinhos e levar para Salinas”, sugere o presidente da ABIH-PA.
Sem direcionamento
Já para o assessor jurídico do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Pará (SHRBS-PA), Fernando Soares, ainda não há um direcionamento de como Belém conseguirá atender a todos os participantes.
De acordo com a entidade, há 25 mil leitos disponíveis atualmente na Região Metropolitana de Belém, considerando tanto as vagas em hotéis, hostels e motéis.
“A quantidade de leitos é insuficiente e ainda é preciso sentar com os órgãos governamentais para ver qual a solução eficaz que a gente pode dar ao problema. A gente tem apenas dois anos e dificilmente vão surgir novos empreendimentos apenas para atender a COP 30 porque não existe um cenário turístico razoável que justifique fazer um empreendimento de meio de hospedagem”, analisa.
Soares acredita que a solução passará por outras medidas que devem ser aliadas da liberação de crédito.
“O financiamento público pode ser aplicado para melhorar os hotéis que já existem. Talvez precisemos criar algum meio de hospedagem alternativo, como o governador Helder Barbalho sugeriu em navios. Já ouvi ideias sobre o de contêineres para hospedagem mais popular, como foi feito no Qatar. São soluções que estamos ouvindo falar, mas não existe nada de concreto”, afirma.