O interesse do mercado por produtos diferenciados em razão da origem, do sabor, de suas propriedades biológicas e do impacto positivo que causam nas comunidades tradicionais e no meio ambiente, tornou o guaraná, a castanha-do-pará, o açaí, o cupuaçu e outros frutos amazônicos populares no mundo todo. Com a bioeconomia em alta, o camu-camu, uma fruta típica do entorno do Rio Amazonas, também vem ganhando espaço e tem potencial para se tornar uma nova tendência nesse setor.
No Pará, o investimento nessa cadeia já acontece na Volta Grande Xingu. Entre os municípios de uma plantação de camu-camu promove restauração florestal e geração de renda.
De formato pequeno e arredondado, o camu-camu é encontrado em árvores de até 4 metros de altura que crescem tanto em áreas alagáveis, como as margens de rios e lagos, quanto em terra firme. A coloração varia entre vermelho e roxo e o sabor combina um aspecto ácido com adstringente, sendo bem aplicado na produção de licores, geleias e sorvetes.
Uma das características que chama a atenção no quesito funcional é a alta concentração de vitamina C, que chega a ser 20 vezes maior do que em uma acerola e 100 vezes maior do que o limão. Essa e outras propriedades se tornaram um atrativo nos mercados dos Estados Unidos, União Europeia e Japão, que estão entre os principais compradores de camu-camu do Peru, que lidera as exportações do fruto.
De olho no potencial desse produto, uma pesquisa realizada pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) em parceria com a Fundação CERTI analisou a cadeia produtiva do camu-camu na região tomando como base um estudo focal no estado de Roraima, onde a Embrapa tem avançado na promoção da espécie.
“O que temos é uma rede embrionária, formada por ribeirinhos extrativistas, que dependerá muito de estímulos governamentais para solidificar o escoamento da produção. No entanto, identificamos o enorme potencial para no futuro gerar bionegócios de grande valor a partir dele”, afirma Fernanda Cidade, analista de projetos do Idesam, em entrevista ao Brasil Amazônia Agora.
Durante o projeto foram identificados os obstáculos enfrentados por agricultores e comerciantes, envolvendo aspectos como a falta de energia elétrica nas comunidades, as dificuldades para refrigeração e a estrutura de transporte. Essas informações serviram para a elaboração de estratégias logísticas que podem facilitar o escoamento e o comércio do fruto.
“Algumas dessas oportunidades incluem atrair indústrias de produção de pó, liofilizados ou spray drive para as proximidades, além de usar pequenos barcos equipados com painéis solares para navegar pelos rios estreitos e processar o fruto em polpa, similar ao processamento do açaí, que é uma das referências sugeridas pelo estudo”, pontua Jane Gaspar, engenheira de desenvolvimento da Fundação CERTI.
Outras propostas do estudo incluem a disseminação de tecnologias para mapeamento de regiões produtivas e para plantio em terra firme, além do estabelecimento de normas de qualidade para garantir a segurança do produto e dos consumidores, possibilitando o acesso a novos mercados.
“É fundamental estabelecer esta cadeia produtiva, que está bem fragilizada, para aproveitar todas suas potencialidades, tanto na questão de fomentar a economia local como pelos seus benefícios à saúde”, destaca Fernanda Cidade.