Enquanto o agronegócio ainda contabiliza os prejuízos causados por fenômenos como o El Niño neste ano, o setor já precisa se preparar para uma nova onda de eventos climáticos. O alerta é do meteorologista e líder da área de comunicação da Climatempo, Willian Bini, que prevê que o Brasil pode ser impactado pelo La Niña na próxima safra. As informações são do Globo Rural.
A declaração de Bini ocorreu durante sua participação no 2º Fórum Futuro do Agro, realizado em São Paulo. Caso a previsão se confirme, o País pode enfrentar uma queda nos níveis de chuva, afetando algumas das principais áreas produtoras de grãos, como a região Sul.
“O El Niño começa a perder força no verão, mas o outono ainda deve sofrer influência dele. O inverno ainda é uma incógnita, mas pode ocorrer um novo La Niña, trazendo precipitações menores para o Sul”, afirmou o meteorologista.
Aliado a isso, os próximos meses ainda devem ser marcados por situações adversas, como a elevação da temperatura e a menor precipitação já na passagem da primavera para o verão. O cenário preocupa, pois não oferece condições favoráveis para o desenvolvimento dos cultivos.
“No Mato Grosso, muitos lugares estão em processo de replantio. Onde as temperaturas chegaram a 40 ºC, no solo pode passar de 50 ºC. Com isso, as plantas emergentes e sementes são praticamente cozinhadas”, comenta Willians Bini.
Mudança do clima x prejuízo
Desde 2014, o El Niño e o La Niña vêm ocorrendo de forma alternada, o que prejudica a produtividade de commodities brasileiras. Segundo estimativas da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), de 2013 a 2022, os fenômenos climáticos causaram prejuízos de R$ 287 bilhões à agropecuária brasileira. Em 2023, a projeção é que as perdas giram em torno de R$ 33,7 bilhões, sendo R$ 24,6 bilhões na agricultura e R$ 9,1 bilhões na pecuária.
Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) também participaram do encontro e confirmaram a neutralidade do clima é cada vez mais rara, por isso é necessário que o setor agrícola incorpore o uso de tecnologias e soluções capazes de adaptar as atividades aos eventos extremos.
“A agricultura é a grande vítima de eventos climáticos extremos. Mas já existem várias tecnologias que podem ajudar a combater esses efeitos e garantir a produção de alimentos. Já temos pesquisas, políticas públicas e programas de proteção ambiental e social para atingir esse objetivo”, avaliou Paula Packer, chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente.