A seca severa na Amazônia segue castigando o cotidiano de muitas comunidades. A queda no nível do Rio Tapajós preocupa ribeirinhos e populações pesqueiras, que têm enfrentado o impacto sobre suas atividades e necessitam da distribuição de água potável, alimentos e do acesso a um auxílio emergencial prometido pelo Governo Federal.
Na outra ponta, representantes dos principais operadores logísticos da região tentam contornar o problema da estiagem para transportar a produção e manter os bons resultados do segmento impulsionado pela safra recorde de grãos em 2023.
Apesar da marinha do Brasil informar em nota ao Pará Terra Boa que “até o presente momento, não houve nenhum relato sobre interrupção da navegação no trecho entre Itaituba e Santarém”, a agência de serviços portuários Serveporto afirmou o contrário. De acordo com a empresa alguns embarques de grãos nos rios Tapajós e Madeira foram interrompidos, devido à seca, afetando os terminais de grãos.
Já a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) afirmou que “um pequeno número de cargas” estaria sendo desviada dos rios da região para portos do Sul e Sudeste. As informações, divulgadas pela CNN, são da Reuters.
“A estação seca atingiu duramente os portos amazônicos, principalmente para as barcaças com calado mais baixo Muitos comboios estão com dificuldade para continuar suas operações, levando a capacidades de carga reduzidas”, afirmou a Serveporto.
A Serveporto também disse que os baixos níveis de água estão afetando as embarcações que chegam ao porto de Santarém, no Pará, principalmente por causa das restrições de calado no local.
“Para os navios de descarga, sugerimos considerar a ancoragem para redução do calado antes da atracação, devido à incerteza das profundidades exatas na chegada”, acrescenta a empresa.
Outra solução encontrada é a utilização de empurradores, que podem navegar as barcaças em pontos mais rasos, como tem feito a Hidrovias do Brasil. Além disso, o setor aposta na integração entre os modais hidroviário e rodoviário. A gigante Cargill, por exemplo, está utilizando as rodovias em complementação às operações fluviais devido à necessidade dos navios circularem com menos carga nesse período.
Embarcações circulam com menos carga
Ao contrário de outros operadores, Flávio Acatauassu, presidente da Associação dos Terminais Portuários e Estações de Transbordo de Cargas da Bacia Amazônica (Amport), garantiu ao Pará Terra Boa que, a despeito de ter chegado ao menor nível da série histórica, o Tapajós mantém condições de navegação segura.
Isso porque, segundo ele, as medições divulgadas não se referem à profundidade, mas sim à variação, seja de subida ou descida no nível da água. No caso do Tapajós, a profundidade do rio na cidade está em torno de 13,50 metros, o que permite a circulação de navios de longo curso, informa Acatauassu.
Ainda de acordo com o presidente da Amport, as rotas da bacia podem levar as embarcações até a foz do Amazonas, na altura de Macapá. No entanto, a principal alternativa é de Miritituba, em Itaituba, até Barcarena, onde o calado é maior, isto é, há uma distância maior a lâmina d’água e a quilha do navio, que fica na parte inferior.
Em Macapá, a profundidade chega a 11,70 metros, enquanto que em Barcarena o calado é de 13,90 metros. De acordo com Acatauassu, esses dados justificam a preferencia por essa rota para o escoamento de grãos.
Com a queda no calado do rio, as barcaças tiveram que passar com 50% menos peso pelo rio Madeira e 40% menos no Tapajós. Mas nos últimos dias, ambos os rios já subiram 70 centímetros, diz ele.
Acatauassu ressaltou ainda que o fenômeno da vazante já é conhecido e esperado, por isso as empresas já tem soluções para enfrentar as adversidades dessa época. Porém, ele pondera que o evento tem características mais severas neste ano devido à combinação com outros fatores.
“Desde que o mundo é mundo, todos os anos os rios baixam. Este ano, extraordinariamente, em função do aquecimento no Atlântico e o El Nino, os rios baixaram muito rapidamente e deixaram muitas embarcações encalhadas, pegado os ribeirinhos de surpresa”, pontua.
Por Fabrício Queiroz, com informações da Reuters