A invasão da Ucrânia pela Rússia nesta semana deixou as economias mundiais em alerta máximo. Apesar de os dois países estarem a mais de 9 mil km de distância do nosso Pará, os efeitos econômicos do conflito já são esperados para o Brasil porque a Rússia é fornecedora de grãos consumidos no mundo inteiro, como o trigo e trigo, petróleo, gás, fertilizantes e, além disso, importadora de produtos do setor produtivo brasileiro. Já a Ucrânia, com quem o Brasil tem menos relação comercial comparada aos russos, é o 3° maior produtor de milho mundial. Infelizmente, a inflação pode surgir nesse cenário instável e caótico, apesar de que tudo dependerá do grau do conflito, tamanho e tempo.
O conflito fez disparar o preço de um insumo de impacto fundamental para a economia mundial, o petróleo. O barril ultrapassou US$ 100, o que pode pressionar a Petrobras a reajustar o preço dos combustíveis, como foi visto no ano passado. Os combustíveis são os componentes de maior peso do nosso principal índice de inflação (IPCA).
“Petróleo é reajuste na veia, pois pesa cerca de 4% no IPCA [somando gasolina, etanol e diesel]. Ou seja, qualquer aumento de 10% [no preço da commodity], já pesa 0,4 ponto percentual no IPCA, o que é muita coisa. Lembrando que a inflação deste ano já está acima do teto da meta e tem uma perspectiva do Banco Central superar 12% de juros ao longo dos próximos meses”, explica Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, ao site da Infomoney, na quinta-feira, 24/02.
A Rússia é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, com capacidade para produzir mais de 10 milhões de barris da matéria-prima por dia. Para se ter uma ideia, o Brasil não consegue produzir nem um terço disso – nossa produção gira em torno de 3 milhões de barris diários, acrescenta o site dedicado ao mercado financeiro.
“As pressões sobre os [preços dos] combustíveis afetam o mundo inteiro. Piora ainda mais uma inflação que já está muito elevada”, diz o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, à CNN Brasil na quinta-feira, 24/02. “Se tem mais inflação, será necessário subir mais os juros, e juros mais altos dificultam o crescimento lá na frente.”
Commodities
Quanto aos produtos da cadeia brasileira alimentícia de exportação, o milho e trigo tiveram elevação de preços. Nessa toda, a tendência é de repasse dessa alta para o consumidor, seja para vender no mercado externo ou interno.
Juntas, Ucrânia e Rússia respondem por quase um terço das exportações globais de trigo (28%) e um quinto das exportações de milho (18%).
“O principal desdobramento para o Brasil pode vir por meio das commodities. No rali histórico dos preços, isso acarreta uma inflação maior, num ambiente em que já estamos com a corda puxada”, diz Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, ao site da CNN Brasil no final da tarde de quinta-feira, 24/02.
“Apesar de produzirem menos do que outros grandes players globais, os dois países exportam uma grande parte do milho e trigo que produzem [54%], portanto têm um papel importante na dinâmica do comércio global”, afirma a equipe de análise do Itaú BBA ao Infomeney.
O diretor técnico da Confederação Nacional de Agricultura, Bruno Lucchi, tem a mesma preocupação, especialmente com os impactos da crise no comércio mundial de fertilizantes. “O conflito pode manter a inflação energética elevada e transbordar para outros produtos, como os fertilizantes. Se o preço do petróleo aumentar mais, também pode haver impactos sobre os custos logísticos, que já estão mais altos”, disse ele à edição do jornal “Valor Econômico” desta sexta-feira, 25/02.
A inflação no Brasil também pode se elevar com uma possível alta do dólar nos Estados Unidos. O economista-chefe da Órama, Alexandre Espirito Santo, detalhou ao site da “CNN Brasil” que uma alta nos juros americanos tende a fortalecer o dólar e atrair mais investidores aos EUA, onde a recompensa sobe. Ao mesmo tempo, esse movimento incentiva uma saída da moeda do Brasil, o que deixa o real mais desvalorizado. Ao mesmo tempo, esse movimento pode ser menor devido aos juros brasileiros em alta. “Mesmo que a alta nos EUA seja pequena, o diferencial é muito forte ainda para os nossos juros, o que ajuda o real”, diz.
“Subir juros não vai resolver preço do petróleo, ou encerrar essa guerra. O que o Banco Central deve fazer é monitorar a situação da economia. Se isso virar uma guerra maior, algo que se expanda com resposta de países ocidentais, vai muito provavelmente causar uma desaceleração na economia mundial, e afetar a nossa economia”, concluiu.
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