Todo mundo conhece o cupuaçu, esse fruto amazônico com sabor único e que é ingrediente de muitas receitas doces e salgadas, Mas ultimamente ele tem ganhado fama ao se apresentar de forma diferente do usual, mas similar ao produto mais conhecido vindo do seu parente famoso, o cacau.
O Cupulate lembra chocolate na forma, textura e no nome, mas – que fique claro – tem personalidade própria. Feito a partir da amêndoa do cupuaçu, ele nasceu da combinação da produção sustentável do fruto com o desenvolvimento técnico e os saberes tradicionais.
O chocolatier César de Mendes é um dos responsáveis pela difusão do cupulate já presente na cultura alimentar de muitas populações amazônicas. E, assim, como faz com os chocolates que produz à base de cacau nativo da Amazônia, colhido por comunidades que mantêm a floresta em pé, a feitura do “seu’ cupulate também foi beber em fonte tradicionais.
Receita tradicional
Mendes lembra que já tinha tentado reproduzir a receita, mas não gostava do resultado. A mudança veio em 2018, depois de ele participar da expedição do programa Amazônia 4.0, idealizado pelo climatologista Carlos Nobre, na qual teve contato com a experiência da Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Município de Belterra (Amabela).
“Elas nos receberam no quintal e fizeram uma exposição de produtos que elas vendiam e um deles era uma bebida, que era o cupulate liquido. Eu provei e gostei muito porque senti o sabor que lembra muito o cupuaçu. O que é legal é que o cupulate delas não era em massa, mas em bebida e também preservava muito o perfume e o sabor da fruta”, conta o chocolatier.
Para ele, além do processo diferente, o que dá características peculiares ao cupulate é a variedade e o manejo distinto da fruta.
“Isso tem uma influência bastante significativa porque, por exemplo, na Colônia Chicano, em Santa Barbara do Pará e em outras regiões, como os municípios de Acará e Tomé Açu, parece que na fruta é mais acida e mais perfumada. Quando você escapa para fora, eu percebo que os frutos do Tapajós têm uma acidez menor e um perfume agradável, mas não tão intenso. Isso tem a ver com a forma como é cultivado, que no caso da colônia Chicano é em agrofloresta, e na região da Amabela são árvores nativas”, explica De Mendes.
Produto final
Utilizando os frutos dessas duas regiões e aliando as práticas das mulheres extrativistas em relação ao processo de secagem, torra e morra com a tecnologia do cupulate desenvolvida pela pesquisadora Raimunda Fátima Ribeiro de Nazaré, da Embrapa Amazônia Oriental, chegou ao produto final que hoje pode ser encontrado em barras de 50 gramas com teor de 70% de cupuaçu.
“A receptividade é muito alta. Nos participamos de uma feira nos Estados Unidos em fevereiro e o produto que mais vendeu foi o nosso cupulate. Da mesma forma, estivemos em feiras em Portugal e na França e a venda foi fácil e rápida. O custo é o público conhecer. Às vezes ficam meio receosos, mas depois que provam, eles voltam e compram mais”, afirma.
Apesar da boa aceitação e da facilidade do marketing associá-lo ao chocolate, César de Mendes defende que o produto tenha uma trajetória própria e seja valorizado pelas suas características próprias.
“Não tem como o cupulate ser comparado ao chocolate, que é algo consumido há cerca de 9 mil anos e um dos produtos mais bem aceitos em todo o mundo. Temos que trabalhar o cupulate como algo diferente, que dificilmente vai alcançar esse mesmo nível de aceitação, mas eu faço uma prospecção de que o cupulate tem muito a ascender no mundo inteiro”, reitera De Mendes.
Por Fabrício Queiroz