Por Fabrício Queiroz
A Cooperativa dos Trabalhadores Agroextrativistas do Oeste do Pará (ACOSPER), o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém (STTR) e o Projeto Saúde e Alegria (PSA) comemoraram nesta sexta-feira, 19, a inauguração do Ecocentro da Sociobioeconomia. O evento contou com a presença da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva; representantes da Alemanha e Noruega, que estão entre os principais doadores do Fundo Amazônia, autoridades locais e outros apoiadores.
O Ecocentro surge para fortalecer as atividades de extração de látex e óleos essenciais, o beneficiamento de frutas e sementes nativas e a produção de mel de abelhas sem ferrão na região. O espaço era um antigo galpão de borracha da ACOSPER e foi revitalizado e equipado para se tornar um ponto referência de multiprocessamento, armazenamento e comercialização de produtos da sociobiodiversidade.
“Agora com o Ecocentro, será possível agregar valor a toda essa produção comunitária. Ao invés de vender sementes “in natura”, poderão por exemplo aumentar as receitas ao comercializá-las na forma de óleos ou manteigas. E diretamente, sem atravessadores. Taí o povo agroextrativista do Tapajós mostrando que é possível sim um outro tipo de desenvolvimento, a partir das vocações e culturas locais, e com a floresta em pé”, destacou Caetano Scannavino, coordenador do PSA.
Em seu discurso, Marina Silva tratou da importância da retomada do Fundo Amazônia no atual governo e seu papel dentro das políticas de apoio aos povos e comunidades tradicionais e para fomentar estratégias econômicas mais sustentáveis na região.
“Esses recursos são para projetos-piloto como esse, para que eles possam ganhar escala e possam ser transformados cada vez mais em política pública, para que a gente possa fazer com que o desmatamento zero na Amazônia não seja apenas por ação de comando e controle, mas em função da mudança do modelo de desenvolvimento, da criação de um novo ciclo de prosperidade, que combate à desigualdade e que faz a agenda econômica, social, ambiental e cultural da sustentabilidade”, declarou a ministra.
Marina Silva também se disse emocionada ao ver a combinação de ética e técnica do ecocentro com os conhecimentos tradicionais, o que vai permitir otimizar e ampliar a produção, além de agregar valor aos produtos que surgem do manejo responsável dos recursos naturais.
“Eu me lembrei que para tirar óleo de andiroba, a gente ralava a semente no ralo, uma por uma. Para tirar o óleo da copaíba, o processo era artesanal e difícil, nem todos sabiam manejar e, às vezes, a árvore até morria”, recordou Marina, que durante a infância e a adolescência viveu com a família no seringal Bagaço, no estado do Acre. “Tantas vezes eu andei com meu pai por 14 km por dia para poder coletar 16 latas de leite para fazer a borracha para vender para o patrão”, pontuou.
A ministra afirmou ainda que o Brasil se tornou protagonista da agenda climática atualmente porque dá exemplo com a redução do desmatamento na Amazônia e com apoio prestado a outros países da região. A expectativa é que o compromisso nacional seja reforçado durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que ocorre em 2025, em Belém.
“A mudança climática que nos assola será enfrentada com desmatamento zero e redução de emissão de CO2 de carvão, petróleo e gás. Nós vamos para a COP30 com INDCs (Contribuição Nacionalmente Determinada) que sejam ambiciosas para não ultrapassar o 1,5ºC”, frisou Marina Silva.