Promover a conservação da floresta e dar escala aos projetos capazes de gerar benefícios econômicos e sociais para a Amazônia é o que motiva a criação de muitos negócios no ramo da bioeconomia. Aliando práticas e conhecimentos tradicionais com o uso sustentável dos recursos naturais, esses empreendimentos têm mostrado um grande potencial, mas ainda precisam de mais visibilidade e mecanismos adequados para o seu desenvolvimento.
A partir dessa constatação, a Aliança pela Restauração da Amazônia elaborou um estudo inédito que traz um mapeamento de iniciativas relevantes na área com destaque para os principais modelos de negócios que tem impacto direto na restauração florestal: sistemas agroflorestais, coleta de sementes nativas, restauração ecológica para geração de créditos de carbono e produtos da sociobiodiversidade.
Os exemplos mostrados são desenvolvidos em diferentes estados da Amazônia brasileira e trazem informações sobre a sustentabilidade financeira, a governança social, os ganhos econômicos, sociais e ambientais gerados, além da análise dos fatores chave para o seu crescimento.
“É essencial dar visibilidade para quem já está fazendo a restauração em diferentes abordagens, desde um empreendimento comunitário à uma grande empresa. A metodologia categoriza além do financeiro, serviços ecossistêmicos, engajamento da comunidade e diferentes níveis de valoração dos ativos socioambientais”, pontua Rodrigo Freire, líder de áreas privadas da The Nature Conservancy Brasil (TNC) na Amazônia e secretário executivo da Aliança pela Restauração da Amazônia.
No Pará, a pesquisa destaca seis empreendimentos: a Cooperativa dos Produtores de Cacau e Desenvolvimento Agrícola da Amazônia (Coopercau), a Belterra Agroflorestas, a Cooperativa dos Fruticultores de Abaetetuba (Cofruta), a Cooperativa Agrícola dos Empreendedores Populares de Igarapé-Miri (Caepim), a Mombak e a Re.green.
A Cofruta, por exemplo, é apresentada como um negócio com forte capacidade de mobilização social que “fomenta um sistema de produção que promove a conservação de florestas e da biodiversidade, com maior oferta de produtos e melhora na qualidade de vida”. Com foco na comercialização de polpas de frutas, sementes, óleos e manteigas vegetais originados de áreas florestais manejadas e de SAFs diversos, a cooperativa é responsável pela conservação de 300 hectares e pela geração de renda para 250 famílias de Abaetetuba.
Por sua vez, a Belterra Agroflorestas também atua com SAFs, mas em larga escala e aponta para um caminho promissor para a transição de uso da terra, ajudando a reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a perda de biodiversidade e outros impactos sociais, com a conservação de 10 mil hectares em diferentes biomas e uma área de 2,1 mil hectares de agrofloresta.
Já no caso da Mombak é ressaltado o plantio de espécies nativas no município de Mãe do Rio para a restauração de uma área de mais de 2,4 mil hectares e a geração de créditos de carbono de alta qualidade. A expectativa da startup é remover mais de 1,5 milhão de toneladas de CO2 da atmosfera ao longo dos próximos 30 anos.
Apesar dos inúmeros benefícios, muitos desses projetos enfrentam desafios, principalmente no acesso a crédito, como é o caso da Coopercau e da Caepim. Para a Aliança pela Restauração da Amazônia e a TNC, a divulgação do estudo é uma forma de acelerar a implementação de soluções financeiras e políticas públicas para fomentar a restauração florestal como estratégia aliada do cumprimento das metas climáticas globais.
“Sabemos que o compromisso climático de 1,5ºC do Brasil depende do desmatamento zero e da restauração em larga escala, que não apenas recupera áreas, mas também previne novos desmatamentos e fortalece uma economia sustentável de base florestal”, diz Rubens Benini, líder de Florestas e Restauração da TNC Brasil.