O Pará Terra Boa conversou com Rosana Blasio, gerente-executiva de operações do Fundo JBS pela Amazônia, para falar de uma iniciativa do grupo de financiamento em nosso Estado na área de meio ambiente. Trata-se do projeto RestaurAmazônia, desenvolvido pela ONG Solidaridad, com apoio do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), com foco em recuperação de áreas degradadas.
A ideia é melhorar a vida do produtor paraense, manter a floresta de pé e estimular o desenvolvimento econômico em nosso Estado. Essa junção entre preservação ambiental e economia se mostra um caminho que rende grandes resultados.
Uma prova disso foi a seleção da amostra produzida pelo cacauicultor João Evangelista, de Novo Repartimento, para a grande final do Prêmio Internacional do Cacau, o maior evento global do setor de chocolate que ocorrerá no Salon du Chocolat de Paris, no final de outubro. Trata-se de um grande reconhecimento para a seriedade do trabalho desenvolvido pela ONG Solidaridad, conforme afirma Rosana.
Leia abaixo a entrevista completa.
Qual a importância de desenvolver um projeto (RestaurAmazônia) no Pará?
Consideramos muito importante apoiar esse tipo de projeto. Justamente por isso, o RestaurAmazônia, que é desenvolvido pela ONG Solidaridad, com apoio do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), foi um dos seis primeiros projetos escolhidos para receber os aportes iniciais do Fundo JBS pela Amazonia, em junho de 2021. Todos os projetos desenvolvem ações de conservação e preservação da floresta, melhoria da qualidade de vida das comunidades locais e desenvolvimento científico e tecnológico da região. Em conjunto, as seis iniciativas receberão R$ 50 milhões do Fundo.
Além disso, o RestaurAmazonia foi o primeiro projeto a receber também um aporte de um parceiro do Fundo. A Elanco Foundation, que tem como compromisso melhorar o bem-estar das pessoas e dos animais em todo o mundo por meio de investimentos filantrópicos e parcerias estratégicas, doou US$ 450 mil para o RestaurAmazônia ao longo de três anos.
Qual é o objetivo do RestaurAmazônia?
Um dos propósitos do Fundo JBS pela Amazônia é apoiar a adoção de práticas agrícolas regenerativas e os chamados sistemas agroflorestais, que, neste caso, utilizam o cacau e transformam áreas desmatadas em locais de cultivo com absorção de carbono. É isso que ocorre no caso do projeto RestaurAmazônia, que incentiva o reflorestamento produtivo de áreas desmatadas da floresta Amazônica, incluindo regiões localizadas no Estado do Pará. Cumpre destacar que, na Amazônia, a cobertura de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) é menor que a média nacional e atinge somente 8,8% do total de agricultores familiares da região Norte (INCRA, 2017).
Qual o número de famílias atingidas?
A partir do aporte realizado pelo Fundo JBS pela Amazônia, o projeto RestaurAmazônia prevê, em cinco anos, apoiar 1.500 famílias de produtores rurais ao longo da Transamazônica, no Pará, nos municípios de Novo Repartimento, Pacajá, Anapu e Altamira. O objetivo é transformar essas pequenas propriedades em modelos de sistemas agroflorestais, que integram pecuária, agricultura e floresta.
Qual é a importância do destravamento de crédito para a bioeconomia da floresta?
Destravar o crédito para a bioeconomia da floresta é essencial e um dos gargalos da cadeia de valor que o Fundo JBS pela Amazônia está trabalhando. Consideramos que, através do acesso a esse crédito, podemos promover boas práticas agrícolas para que as pequenas propriedades mantenham sua viabilidade econômica. É um caminho primordial para garantir a preservação ambiental.
Na Amazônia, especificamente, são 607.583 pequenas propriedades rurais (CAR, 2019), que correspondem a cerca de 80% dos estabelecimentos agropecuários da região (IBGE, 2017), além de 2.836 assentamentos da reforma agrária (INCRA, 2019) com capacidade para 636.422 famílias.
Qual é o potencial de restauração da região?
Atualmente, 27% das pastagens existentes em pequenas propriedades possui algum nível de degradação. Isso representa um potencial de restauração de 280 mil hectares, uma excelente oportunidade para promover a recuperação da paisagem e a regularização ambiental.
Nossa intenção é ajudar a garantir o sustento dos produtores, mostrando que é possível prosperar e, ao mesmo tempo, desenvolver atividades que gerem renda e ajudem a absorver carbono da atmosfera.
Acreditamos que, apoiando projetos como o RestaurAmazônia, conseguiremos avançar de maneira concreta para atingir o objetivo de impulsionar a promoção de ações de conservação e preservação da floresta e o desenvolvimento sustentável da região Amazônica.
Como os recursos serão empregados?
Em setembro de 2021, a XP se tornou parceiro do Fundo e anunciou a doação de R$ 500 mil para o projeto Destravamento de Crédito para Bioeconomia da Floresta, também apoiado pelo Fundo. Criada e implementada pela Conexsus, a iniciativa busca fomentar cadeias da floresta – castanha, açaí, pescado, madeira, óleos e resinas – por meio da facilitação de acesso ao crédito rural. O projeto prevê a contratação e treinamento de ativadores locais para viabilizar ao menos 2.500 contratos de crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF).
Além disso, a iniciativa vai desenvolver também um modelo de negócios para 15 cooperativas que darão assessoria periódica em gestão aos beneficiários finais do projeto. O resultado será a criação de um negócio social para apoio no acesso ao crédito Pronaf com orientação produtiva, fomentando as cadeias de bioeconomia. O aumento de produtividade e renda serve como estímulo para prevenção do desmatamento.
Além da XP, o Fundo fechou parceria com outras duas novas empresas que irão doar mais R$ 4,5 milhões durante três anos. Os novos parceiros são a Aviagen e a Overseas Resources Foundation Limited (ORFL).
A ORFL, que atua no segmento de couros e calçados e trabalha com um processo de produção que utiliza materiais reciclados, é a primeira instituição asiática a investir nos projetos de reflorestamento, ecoeconomia e P&D do Fundo JBS pela Amazônia. Foram doados mais de R$ 3 milhões (valor equivalente a US$ 600 mil) para investimento em quatro iniciativas do Fundo.
A quantia será distribuída ao longo de três anos e, a pedido da organização, será direcionada para os seguintes projetos: Projeto Pesca Justa e Sustentável; Programa Economias Comunitárias Inclusivas, nas Comunidades de Bailique e Beira Amazonas, no Amapá; AMAZ (Aceleradora & Investimentos de Impacto); e Parceria Técnica com a Embrapa.
Já a Aviagen, empresa que atua no setor de genética avícola, doará mais de R$ 1,5 milhão para o desenvolvimento dos projetos que fazem parte do Fundo JBS pela Amazônia. A doação será dividida em três parcelas anuais iguais.