Cada vez que a multinacional Apple vende um computador moderno, o Pará ganha alguma coisa? Pelo contrário: a cada máquina equipada com filamentos de ouro ilegal da Terra Indígena (TI) Kayapó, no sul do nosso Estado, o que nós ganhamos é mais violência e destruição ambiental. Esse é nosso saldo do garimpo ilegal. É para as empresas Apple e outras gigantes da tecnologia, como Amazon, Google e Microsoft que o lucro fica. Como assim? Vem conosco que a gente explica.
Reportagem do site “Repórter Brasil” revelou nesta segunda, 25/07, uma teia clandestina de extração ilegal de ouro no Pará envolvendo essas chamadas bigtechs. Elas compraram o metal entre 2020 e 2021 de ao menos duas refinadoras que obtêm ouro de terras indígenas no Pará: a italiana Chimet, que já responde na Justiça por crimes ambientais praticados na TI Kayapó, e a brasileira Marsan, também investigada por causa de violações legais na aquisição de ouro ilegal. No Brasil, é proibido extrair outro de territórios indígenas.
Das quatro big techs, apenas a Apple tomou uma atitude ao ser questionada pela Repórter Brasil. Google, Microsoft e Amazon disseram que não comentariam, mas não negaram terem comprado da Chimet e da Marsam.
Uso de ouro em computador não significa que estamos falando de quantidades pequenas do metal. Produtos eletrônicos responderam por 37% do ouro usado nos Estados Unidos em 2019, de acordo com o Sumário de Comidities Minerais elaborado pelo Serviço Geológico dos EUA, informa a Repórter Brasil.
Para se ter uma ideia do quanto ganham, a Chimet obteve a maior receita da sua história em 2020: mais de 3 bilhões de euros (cerca de R$ 18 bilhões), um aumento de 76% em relação ao ano anterior.
Essa teia é complexa e envolve mais empresas brasileiras, que vão formando braços e mais braços que chegam ao exterior, burlam normas internacionais e tudo fica por isso mesmo. Essa Chimet, por exemplo, que forneceu ouro ilegal para as bigtechs, teve como fornecedor a CHM do Brasil, que é considerada pelos policiais federais como uma das principais “destinatárias do ouro ilegal vindo de terras indígenas no sul do Pará”.
Já a Marsam, a empresa brasileira que forneceu ouro ilegal para as gigantes de tecnologia, tem como um de seus fornecedores a conhecida de outros carnavais FD’Gold DTVM (Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários), acusada pelo Ministério Público Federal de comprar ouro extraído de terras indígenas, principalmente dos territórios dos povos Kayapó e Munduruku, no Pará. Seu dono é Dirceu Frederico Sobrinho, que além de presidente da Anoro (Associação Nacional do Ouro), é um dos principais lobistas para legalizar o garimpo em terras indígenas.
Fonte: Repórter Brasil