O paraense sabe que seu Estado é um tesouro natural a céu aberto, mas os números apontam que essa riqueza poderia ser muito mais bem explorada pelo mundo afora. Se houvesse maior capacitação dos produtores, valorização de produtos e apoio à comercialização, o Estado estaria em outro patamar em sua batalha para se tornar o local mais potente de bioeconomia do Brasil. Também há a questão delicada de logística em nosso Estado que dificulta ainda mais o escoamento de vários produtos.
O potencial a ser conquistado é evidente quando se olha para o mercado de exportação de produtos como cacau, açaí e pimenta-do-reino, por exemplo, no qual o Pará tem baixa participação. O mesmo caso se repete com a Amazônia como um todo, que exporta castanha e cacau, proporcionando recursos razoáveis a economias locais, mas que ainda está bem longe do potencial comercial do bioma. Para se ter uma ideia, a região gera uma receita média de US$ 300 milhões com a exportação de produtos da floresta, mas o mercado global desses produtos é de quase US$ 200 bilhões.
Os números são do professor da Universidade de Nova York, Salo Coslovsky, que orientou o projeto “Bioeconomia Pé no Chão”, criado a partir de demanda do governo paraense para atender, facilitar e potencializar a produção do cacau, pimenta e castanha no Estado.
A Amazônia participa, por exemplo, com 0,02% do mercado global de cacau, enquanto a Costa do Marfim, uma economia bastante menos robusta que a brasileira, é a líder no produto, com 40% do mercado internacional. Na castanha, sabemos, quem manda é a Bolívia, com 52%, enquanto a Amazônia abastece 4,4% da demanda mundial.
O diretor-executivo do Pacto Global da ONU, Carlo Pereira, calcula que a receita com produtos da floresta brasileira poderia gerar um volume de R$ 1,3 trilhão, conforme afirmou à revista IstoÉ.
“O cacau do Pará é hoje o produto certo, no local certo. A impressão é de que se trata de fenômeno de potencial gigantesco. Queremos saber o que podemos fazer para apoiar, para que os produtores possam fazer mais e fazer melhor. Queremos saber quais instrumentos estão à disposição do governo, além dos que ele já dispõe, para desenvolver este potencial”, afirmou Coslovsky durante a primeira oficina da cadeia produtiva de cacau, no início de setembro.
Entre os principais aspectos levantados na reunião que podem beneficiar o setor estão o investimento em tecnologia para o desenvolvimento genético da qualidade das amêndoas produzidas no Estado, apoio aos produtores com capacitação técnica e subsídios para exportação do produto, certificação de origem orgânica e rastreabilidade ambiental do cacau paraense. Entre os produtores, o consenso é o de que os gargalos tecnológicos e operacional são atualmente os principais entraves do setor.
Governo estadual
A capacitação dos produtores é ponto fundamental para alavancar a produção do Estado, como reconhece Lucas Vieira, secretário adjunto da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário, da Pesca (Sedap).
“Temos previsto para os próximos meses uma capacitação dos produtores na internacionalização da cadeia produtiva do cacau. Vamos selecionar cooperativas e produtores para que gente possa desenvolver este projeto para divulgar nosso cacau em alguns países, como França, Holanda, uma ação que iniciamos em 2019. A nossa produção de cacau fino ainda não é tão grande, vamos começar de forma pequena para depois chegar a outros países”, disse.
O produtor rural Pedro Santos, presente na reunião, destacou a urgência de um sistema que reúna toda a cadeia porque o produtor não consegue andar só.
“Quando a gente fala de qualidade e preço, a nossa grande dificuldade é a questão de valorizar este produto e apresentar um produto de alta qualidade. Quando o produtor tem o cacau seco, ele quer entregar e receber. A cooperativa não tem poder de investimento de pagar um cacau de qualidade, de receber e exportar, de fazer o destino final. E o produtor não consegue andar só, sem auxílio, o melhor caminho é o coletivo. Temos que criar um aporte financeiro para fazer este produto chegar lá na ponta. A bomba está quase para explodir e esta explosão é de qualidade para o nosso Estado. Nós provamos que o nosso potencial é muito grande. Agora é pegar esta qualidade e valorizar para que este produto chegue na ponta. A nossa região, tanto na Transamazônica quanto sudeste, sul e nordeste paraenses, tem potencial. Temos que organizar este nosso potencial para valorizar esta qualidade e valorizar o trabalho do produtor”, afirmou.
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