A economia brasileira já começa a sofrer com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, em curso desde o dia 24/02. Um dos primeiros pontos estratégicos da economia brasileira que já começa a sofrer com a crise é o setor do agronegócio, especialmente os pecuaristas, pois os dois países são produtores de milho e trigo. Além disso, a Rússia é o terceiro maior exportador do potássio, elemento químico de extrema importância para a fabricação de fertilizantes.
O diretor técnico da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi, falou sobre o assunto com o Pará Terra Boa na sexta-feira, 25/02, cujo vídeo pode ser visto aqui.
“O principal insumo hoje utilizado na agricultura, o fertilizante, em grande parte vem da Rússia. A Rússia é o segundo maior produtor/exportador de nitrogênio e também é o terceiro maior, no caso do fósforo e do potássio. Então, o impacto é significativo na questão dos fertilizantes, caso haja um desabastecimento, ou como já está ocorrendo, o aumento de preços destes principais produtos”, afirmou Bruno Lucchi.
Ainda segundo Lucchi, a questão energética também será muito afetada no decorrer da guerra, pois a Rússia é um dos principais produtores de gás natural e do petróleo. Como sabemos, qualquer oscilação na distribuição de petróleo, os custos dos combustíveis disparam.
“O petróleo já atingiu US$ 105 o barril (chegou a US$ 110 nesta quarta-feira, 2/03), no primeiro dia da guerra, e isso teve impacto direto nos combustíveis. A agropecuária brasileira está no interior do País. As distâncias são grandes, então esta situação afetará no aumento do custo dos fretes e do escoamento da produção. Além disso, o petróleo também é o precursor de vários defensivos químicos que nós utilizamos”, disse.
Outro ponto de bastante impacto é a cotação do dólar no Brasil. Sacchi lembra que a moeda norte-americana vinha numa tendência de queda e, nestes poucos dias de guerra, houve um aumento, especialmente nos custos de produção da pecuária.
“O câmbio lógico tem tudo para ter uma oscilação muito maior, num cenário de incerteza como esse. E como grande parte dos insumos da agropecuária brasileira são dolarizados, o impacto também pode ser significativo. Para as cadeias de pecuária, nós estamos vendo um aumento no custo de produção, focados no milho, no trigo e a soja. A Ucrânia é a grande produtora de milho, já a Rússia é um dos maiores produtores de trigo do mundo. Então, este aumento de custo destas commodities certamente vão impactar também no custo das cadeias pecuárias, na avicultura, na suinocultura, bovinocultura, todas elas que dependem da ração onde o milho é o principal produto. Isso se agrava se a gente não tiver uma melhoria na segunda safra ainda este ano”, avaliou.
A ministra da Agricultura, Teresa Cristina, marcou para o dia 12 uma visita ao Canadá para tratar da possível falta de fertilizantes no mercado interno, uma vez que o país da América do Norte é o quarto maior fornecedor do insumo, segundo informa o G1.
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