Por Fabrício Queiroz
Açaí, castanha-do-pará, guaraná e cacau são alguns produtos tipicamente amazônicos e que conseguiram alcançar consumidores em todo o mundo. O sucesso desses frutos e outros itens no mercado reflete o reconhecimento da qualidade de cada um deles, além do fato de eles estarem ligados à forma como as pessoas vivem e se relacionam em determinadas áreas, algo que agora chamamos de sociobiodiversidade.
Apesar de uma demanda crescente pelos produtos regionais, o investimento em suas cadeias produtivas ainda é baixo diante do seu potencial de crescimento. Durante a Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias, realizada em Belém até esta sexta-feira, 1, alguns aspectos nesse sentido foram abordados por empreendedores locais e representantes de instituições financeiras.
Indígena da etnia Paiter-Suruí, Ivaneide Bandeira, mais conhecida como Neidinha Suruí, tratou da importância da produção de café para o seu povo no estado de Rondônia. O plantio é hoje um exemplo de atividade econômica com agregação de valor e geração de empregos, grande aliada do protagonismo indígena e da proteção da floresta.
“A gente tem sistemas agroflorestais, então a gente planta em áreas que foram desmatadas e fazemos a restauração e o reflorestamento e também temos um empreendimento de turismo, que fortalece a cultura e o território”, afirmou Neidinha
Ela destacou que experiências como essa devem ser mais incentivadas pelos bancos, que ainda privilegiam atividades que impactam o meio ambiente e os povos da floresta.
“Os bancos não podem financiar o que nos mata”, enfatizou Neidinha Suruí, que defendeu que o caminho para a mudança dessa perspectiva passa pelo diálogo.
“A gente está lá lutando para manter a floresta, lutando para manter a sociobiodiversidade, mas lutando também para nos mantermos vivos. E é muito difícil sentar e conversar com quem está financiando a nossa morte, mas a gente precisa fazer isso”, afirmou.
Outra perspectiva
A perspectiva dos investidores foi defendida por Leonardo Fleck, do Banco Santander, e Taciano Custódio, head de sustentabilidade para a América do Sul do Rabobank. Para eles, questões como essa ainda continuam problemáticas porque o sistema financeiro ainda carece do estabelecimento de métricas para a monetização dos serviços ambientais.
A expectativa é que, com o Brasil assumindo a liderança do G20 no próximo ano e com a realização da COP30 em Belém, em 2025, haja avanços nessa discussão. Da mesma forma, espera-se que haja maior espaço para expansão dos chamados blended finance, que são fundos de investimento de impacto que visam aliar o retorno financeiro com os ganhos socioambientais.
Inovação e investimento
Outra experiência apresentada foi da Manioca, empresa do ramo alimentício que se tornou referência na exportação de ingredientes amazônicos. Para Joanna Martins, CEO e diretora de operações da Manioca, os diferenciais do negócio foram a inovação e o investimento em estruturas para o atendimento das regulações necessárias para chegar a outros mercados.
A empresária, porém, reconhece que esse tipo de estratégia ainda é pouco acessível, principalmente para pequenos agricultores e extrativistas. Ainda assim, Joanna ressaltou que a inovação pode ser desenvolvida mesmo em atividades tradicionais.
“A partir da sua tradição você gerar inovação, que é o que a gente procura fazer. O jovem precisa entender que isso é possível, que dá para fazer diferente sem necessariamente ser uma Apple. Dá para a gente gerar inovação a partir do que a gente tem aqui”, reforçou.
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