Por Fabrício Queiroz
O consumo do açaí é um dos elementos mais associados à cultura alimentar dos paraenses. Os pontos de venda da polpa fazem sucesso em Belém, mas também geram um grande volume de resíduos. Segundo a Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan), são cerca de 24 toneladas de caroços descartadas por dia na capital. Mas o que era considerado lixo se tornou matéria-prima para produtos de higiene e cosméticos.
A estratégia é explorada pela engenheira de produção Ingrid Teles, que há dois anos criou a marca Ver-o-Fruto. A referência ao maior mercado da América Latina, o Ver-o-Peso, é direta, porém a história do negócio mostra que ele é resultado também de uma nova forma de encarar um recurso tão apreciado na alimentação.
“Eu pesquisei o resíduo do açaí e analisei para que servia. Fiz uma lista de coisas e o mercado de higiene foi um dos que mais me chamou a atenção, Nesse ramo, o açaí já vem sendo usado, mas é principalmente com a polpa ou o óleo, nada com o caroço, então percebi que existia um potencial ai”, conta a empreendedora.
A produção começou de forma artesanal, contando inicialmente apenas com o sabonete feito com o caroço de açaí, que é indicado para pessoas com pele mista ou oleosa. Recentemente, foram lançados dois novos itens: um esfoliante suave também fabricado com os resíduos do fruto e um shampoo produzido com óleo de patauá e manteiga de murumuru.
“Com a produção desses sabonetes, estamos trabalhando na prática com a ideia de promover uma bioeconomia circular”, pontua Ingrid Teles, que estima que em torno de 200 gramas de resíduos são reaproveitados em cada sabonete.
Apoio do Sebrae
A ideia inovadora tem contribuído para o crescimento da marca Ver-o-Fruto no mercado, sobretudo em eventos, feiras e exposições do segmento de beleza e cosméticos. Um dos diferenciais é a proposta “clean beauty” que destaca produtos naturais, veganos e sustentáveis e seus benefícios para toda a cadeia produtiva.
Para isso, o impulso foi dado a partir da seleção no programa de aceleração de negócios Inova Amazônia, realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) no Pará.
“Esse foi o grande salto porque foi quando pudemos entender melhor todas as legislações e regulamentos que precisávamos nos ajustar e porque abriu muitas portas para entrarmos em outros mercados”, comenta.
Ação social
Esse desenvolvimento permitiu que a empresa pudesse ampliar seu impacto social. Nesse aspecto, o objetivo da Ver-o-Fruto é ajudar na ampliação do acesso à água tratada em comunidades ribeirinhas locais em ações que são financiadas com recursos oriundos da venda dos cosméticos. A cada sabonete vendido, R$ 1 é direcionado para o apoio a sistemas de tratamento de água na região de Barcarena e na ilha do Combu.
“Hoje, temos um sistema de tratamento de água dos rios com o filtro feito com o caroço do açaí. O que as pessoas buscam no nosso cosmético é uma marca com propósito, elas querem uma conexão maior e por isso comunicamos esse lema de cuidado com propósito”, frisa Ingrid Teles.