Pesquisadores das universidades de Bonn, na Alemanha, e federais de Minas Gerais e Viçosa (MG) chegaram a um valor estimado do prejuízo econômico provocado pela diminuição de chuvas acelerada pelo desmatamento. Os pesquisadores fizeram um cruzamento de dados entre a relação de chuvas anuais e a perda de floresta nessa região de 1999 a 2019.
Segundo o grupo, em um cenário de controle ambiental fraco, “o sul da Amazônia brasileira pode perder 56% de suas florestas até 2050”. Ao mesmo tempo, o modelo projeta que a redução do desmatamento promovida em um cenário de governança ambiental forte evitaria perdas agrícolas na região no montante de até R$ 5,2 bilhões, ou US$ 1 bilhão.
Os pesquisadores consideraram que para cada hectare de terras são produzidas 3,7 toneladas de soja, sendo que cada tonelada vale R$ 1.721 (US$ 302). Com isso, chegaram ao chamado “limite crítico” da porcentagem de desmatamento que resulta em prejuízos econômicos pela perda de produtividade causada pela diminuição das chuvas.
Até então, as pesquisas anteriores indicavam limite que girava entre 30% e 50%. Agora, os pesquisadores notaram que a precipitação começa a cair quando o desmatamento ultrapassa 58% do território, se consideradas áreas de 28 metros quadrados independentemente do entorno que as cerca. Portanto, esse seria, em princípio, o “limite crítico” para o desmatamento local em cada área desse tamanho: o ponto de inflexão a partir do qual a precipitação local passa a sofrer queda.
Quando analisadas áreas conjuntamente, esse limite (a partir do qual o desmatamento passa a causar queda na precipitação) foi diminuindo gradativamente.
Ao considerarem, por exemplo, áreas de 56 quilômetros quadrados (duas áreas de 28 quilômetros quadrados conjuntamente), os pesquisadores notaram que a queda na precipitação já se inicia quando o desmatamento ultrapassa 48% do território. Quando consideradas áreas de 112 quilômetros quadrados (com a análise conjunta de quatro áreas), esse “limite crítico” para o desmatamento cai para apenas 23% de desmatamento territorial, percentual a partir do qual a precipitação começa a diminuir de forma gradativa.
Por fim, quando a região é analisada em uma escala geográfica maior, em áreas de 224 quilômetros quadrados (oito áreas tomadas conjuntamente, de forma a considerar suas influências recíprocas), a queda da precipitação já se dava a partir de qualquer índice de desmatamento – e de forma linear. Quanto mais desmatamento, menos chuva.
Segundo os autores da pesquisa, é equivocada a ideia de que a política de controle e de redução do desmatamento possa se dar de forma pontual e parcialmente localizada. O desmatamento de uma área influencia a precipitação da região como um todo. O combate ao desmatamento – e à consequente diminuição das chuvas – só vai funcionar se for pensado como política nacional, considerando a Amazônia como um sistema integrado.
Eles ainda concluem que essa redução de chuvas avança de tal modo que, em breve, se nada for feito, poderá inviabilizar o lucrativo sistema de dupla safra hoje praticado na região.
Fonte: UFMG