Frutas como o cupuaçu, o açaí, o taperebá, o bacuri e a castanha-do-pará fazem há muito tempo parte da cultura alimentar da Amazônia e são cada vez mais conhecidas por moradores de fora da região. Além de servir de base para muitas receitas típicas, essas frutas ganham também espaço entre os chamados “superalimentos”, um segmento em expansão que valoriza produtos funcionais, com alto valor nutricional e benefícios para a saúde.
Uma pesquisa da Mordor Intelligence mostra que o mercado global de “superalimentos” movimentou cerca de US$ 182,47 bilhões em 2024 e deve chegar a US$ 297,1 bilhões até 2029. De olho nos números e no potencial de impacto socioeconômico, negócios nesse ramo estão crescendo no Pará e atraindo mais investimentos para a bioeconomia.
Um deles é a Horta da Terra, uma startup de Santo Antônio do Tauá, no nordeste paraense, que é especializada na produção de plantas alimentícias não convencionais (Pancs), como o jambu e a taioba. O apoio financeiro recebido de parceiros como o Fundo para a Biodiversidade da Amazônia, dos Estados Unidos, é aplicado em pesquisas científicas, desenvolvimento agrícola, fabricação e promoção dos produtos junto ao público internacional.
“Estamos expandindo a nossa fábrica em Belém para consolidar o crescimento das vendas internacionais, assegurar contratos recorrentes e adaptar o desenvolvimento de produtos conforme as necessidades de cada país ou região, incluindo América do Norte, Europa e Ásia”, comentou Bruno Kato, fundador e CEO da Horta da Terra, em entrevista ao Valor Econômico.
Já em Altamira, no sudoeste do estado, nasceu a Mazô Maná que tem em seu catálogo uma linha de produtos à base de ingredientes típicos. Massa para bolo, café agroflorestal, chocolate e um supershake composto com um mix de 14 ingredientes amazônicos estão à venda no site e em pontos estratégicos em São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis. A estratégia é focada no mercado de fora da região, mas pensada para envolver e trazer impactos para as comunidades envolvidas no negócio.
“Nosso compromisso com a floresta começa com a escolha de nossa sede em Altamira, município a oeste do Pará, região-chave por sua importância geográfica e histórica na questão socioambiental, e vai até a dedicação de 10% da participação societária da companhia aos povos tradicionais da Amazônia”, destaca José Porto, diretor de marketing da empresa que compartilha a liderança da marca Marcelo Salazar, ex-coordenador do Instituto Socioambiental (ISA) na Terra do Meio e com Raimunda Rodrigues, moradora da Reserva Extrativista Rio Iriri.
O potencial desse mercado chama a atenção de empreendedores de fora, mas também estão conectados com as comunidades locais e as demandas dos consumidores. Esse é o caso de Max Petrucci e Edgard Calfat que há dois anos e meio fundaram a Mahta, uma empresa de tecnologia alimentar voltada ao desenvolvimento de produtos com insumos oriundos de comunidades tradicionais e pequenos agricultores que adotam sistemas agroflorestais na Amazônia.
Atualmente são três produtos: um leite vegetal em pó feito com castanha regenerativa, um café funcional e um shake amazônico com 15 ingredientes e castanhas, que pode ser consumido para substituir uma refeição. A base do shake é torta de castanha, um resíduo gerado após a extração do óleo e que até então não tinha valor comercial.
“Rica em fibras, proteínas e gorduras saudáveis, essa torta estava sendo descartada por falta de uso mais nobre e rentável. Hoje, ela serve como base para nossos superalimentos”, diz Max Petrucci, ressaltando que o negócio já gerou R$ 2 milhões em contribuições para 300 famílias ligadas à cooperativa Reca, de Rondônia, que fornece os insumos.