Com uma porção das melhores amêndoas de cacau, uma dose de ingredientes de qualidade e criatividade a gosto, os chocolatiers paraenses ganham cada vez mais visibilidade pela criação de produtos originais que carregam a identidade amazônica no paladar. Às vésperas da Páscoa, quando o mercado fica mais aquecido, e aproveitando o embalo da COP30, a produção artesanal de chocolates no Pará segue em alta com a expectativa de valorização de um setor aliado da natureza.
Um dos grandes diferenciais do chocolate paraense é a qualidade do seu ingrediente principal: o cacau. Maior produtor do fruto no País, o Pará se destaca pela safra expressiva que passou de 143 mil toneladas em 2024, mas também pelo “terruá”, termo abrasileirado do francês terroir, que se refere às características únicas que o solo e o clima dão aos produtos. De acordo com Maria Goretti Gomes, presidente da Câmara Setorial do Cacau e coordenadora de Projetos Estratégicos do Senar, esses fatores dão ao cacau “um sabor e aroma praticamente inigualáveis”.
“As amêndoas do cacau paraense são reconhecidas por seu sabor mais acentuado e característico, resultado da combinação perfeita entre as condições da região amazônica e o conhecimento tradicional dos produtores locais”, resume Maria Goretti Gomes.
São essas características que hoje vem sendo muito bem exploradas por chocolatiers do estado, como o chef e chocolatier Fábio Sicília, que combina os sabores nativos do cacau com outros ingredientes típicos que impressionam quem deseja conhecer além do chocolate ao leite tradicional. Ele comanda as criações da Gaudens que é toda apoiada na diversidade do cacau paraense produzida pela agricultura familiar nas diferentes regiões do estado.

Amêndoas da região da Transamazônica, das ilhas de Belém, de Tomé-Açu e Castanhal estão entre as selecionadas pelo chef para elaborar chocolates finos com sabores inusitados, como o chocolate açaí ao leite, o bacuri ao leite e as cripiocas que combinam cacau, cupuaçu, bacuri ou chocolate branco com o crocante da farinha de tapioca.
“O mesmo cacau da mesma região em mãos de chocolatiers diferentes dá resultados distintos. Isso é a identidade do produtor, cada um tem sua curadoria e estilo, isso nos dá uma riqueza muito grande para explorar”, comenta Fábio Sicília.
Com a chegada da Páscoa, o chef resolveu explorar ainda mais esse universo de combinações com o lançamento de dois ovos que representam a essência da marca e a identidade do chocolate da Amazônia. Um deles é o ovo produzido com o creme da semente de cupuaçu, com propriedades nutricionais e de textura, sabor, odor e cor diferenciadas. A outra novidade é brownettone, que é um brownie em formato de ovo e recheado com uma meia gema de brigadeiro feito com chocolate Gaudens.

Mas além da Páscoa, a expectativa do chocolatier é que o mercado se abra mais para a experiência que o chocolate paraense pode oferecer. Ele espera que a COP30 ajude a alavancar a produção regional de chocolates pelas suas peculiaridades e seu impacto para uma economia sustentável. Para isso, a Gaudens coloca em prática projetos para destacar o uso de matérias-primas locais, o trabalho com embalagens que valorizam o artesanato típico, o lançamento de novos sabores, além de parceria para promover o empreendedorismo entre bombomzeiras.
“A COP30 vai ser uma vitrine para mostrar o potencial da bioeconomia amazônica a partir do chocolate. Vamos mostrar que trabalhamos com cacau de áreas recuperadas e que o cacau em si não derruba a floresta e que tem pequenos produtores por trás desse cultivo, que são os reais mantenedores da floresta em pé”, ressalta Sicília.