Na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns, localizada no oeste paraense, a comunidade Surucuá, formada por aproximadamente 150 famílias, encontrou uma forma de explorar de forma sustentável os recursos locais, agregando o conhecimento e a tradição locais com inovação e tecnologia. Essa experiência deu origem a produtos à base de cupulate, uma espécie de chocolate produzido com as amêndoas do cupuaçu, além de chocolates finos que agregam valor à rica biodiversidade da região.
A localidade foi a primeira beneficiada pela experiência do Laboratório Criativo da Amazônia (LCA), proposta do Instituto Amazônia 4.0 que visa demonstrar o potencial da bioeconomia da sociobiodiversidade em projetos de pequena escala protagonizados pelas populações tradicionais.
Um dos diferenciais do LCA é a estrutura de laboratórios móveis, também conhecidos como biofábricas, onde é possível processar, beneficiar e elaborar produtos feitos com matérias-primas da floresta. O projeto também tem impacto ambiental reduzido, já que é alimentado com energia solar fotovoltaica.
De acordo com o Instituto Amazônia 4.0, a ideia é capacitar as populações locais para o uso de tecnologias modernas que sirvam para o desenvolvimento de produtos, processos e atividades que agregam valor à biodiversidade. A longo prazo, o objetivo é contribuir para conter a devastação do bioma sem perder de vista a necessidade de apoiar alternativas para geração de renda, principalmente baseadas em sistemas agroflorestais e na restauração florestal.
Esses foram alguns resultados já colhidos na comunidade Surucuá. Durante a implantação do LCA, os moradores tiveram um papel importante oferecendo suporte a instalação das estruturas ou ainda em serviços de transporte, alimentação, limpeza e construção, que impactaram diretamente na empregabilidade local.
Sabores regionais
Além disso, a população da Resex exercitou a criatividade e pôs a mão na massa durante a criação de uma série de receitas que exploram os sabores da floresta. Entre elas estão a de cupulate com castanha do Pará, de chocolate com açaí e a de cupulate com coco liofilizado, isto é, desidratado por meio da sublimação. Outros experimentos apostaram na combinação do chocolate com o cumaru e outras especiarias da Amazônia.
“A gente não dava valor nas coisas que a gente tinha, principalmente, no cupuaçu. A gente perdia muito, não tinha muito utilidade, a gente não sabia como trabalhar, só tinha a polpa e não a semente, e agora a gente sabe que a polpa a gente pode usar pra tudo”, contou a professora Aldenira Sousa em entrevista ao programa Profissão Repórter.
A ideia é que o LCA seja expandido para outras localidades, inclusive já está em execução o projeto para a região de Belterra, assim como a ideia de que sejam apoiadas estratégias de inovação para a castanha-do-Pará, o açaí, os azeites da Amazônia e a área de genômica. Enquanto isso, o projeto já deixa frutos estimulando sonhos e novas perspectivas entre os participantes.
“Eu ouvi muito a frase: estuda pra sair da roça. E hoje, não, eu quero fazer o contrário. Estudar e voltar pra roça, voltar pra comunidade. Hoje meu grande sonho profissional é disseminar a agroecologia nas comunidades e, realmente, viver da nossa cultura”, disse a agricultora Mariane Chaves.