O Pará se prepara para ser o maior hub de bioeconomia do país. De acordo com o diretor da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica do Estado (Sectet), José Leôncio Leitão Siqueira, o Pará reúne todas as condições para dar esse salto ainda neste ano. Para se ter uma ideia da importância do tema, Belém vai sediar em outubro o Fórum Mundial de Bioeconomia.
O conceito de bioeconomia é bastante elástico, cabendo várias definições, mas aqui será adotado o que a Embrapa define: modelo de produção industrial baseado no uso de recursos biológicos.
Um dos principais produtos dessa iniciativa de transformar o Pará nesse pólo de transformação produtiva por meio da exploração sustentável da biodiversidade é o que até o momento é chamado como “central da bioeconomia”, em Belém, com futuras unidades em Marajó, Santarém e Altamira.
A ideia consiste em transformar a Escola Estadual Juscelino Kubitschek, na capital, nessa célula de bioeconomia, com cursos profissionalizantes para a população, especialmente para o produtor rural.
Também se conectam à futura central o projeto de expansão de um laboratório de análise de solo e água em Paragominas e a criação de balsas de processamento do açaí e seu caroço, algo que tem sido experimentado pela iniciativa privada.
Como é sabido, o Pará é o maior produtor de açaí do Brasil, mas ainda não fatura o que gostaria com essa atividade. Em 2020, o estado produziu 1,3 milhão de toneladas do fruto, que movimentou R$ 1,5 bilhão. No mundo, esse mercado representa algo em torno de R$ 20 bilhões, conta.
Com relação à unidade laboratorial de Paragominas, a ideia é fazer com que o produtor rural deixe de fazer suas análises de solo e água no Espírito Santo, onde gasta cerca de R$ 150 por amostra, para fazê-lo no Pará por R$ 60.
“O Pará tem o maior potencial para o desenvolvimento da bioeconomia brasileira. Por isso vamos ter o fórum. Temos a necessidade de desenvolver soluções para a integração da população com seu habitat. O nativo só consegue ter essa percepção de valor do habitat quando tira dele o seu sustento”, afirmou Leitão Siqueira, em conversa com o Pará Terra Boa em 6/7.
Segundo o diretor da Sectet, é “inquestionável” o potencial do estado para fazer essa transformação na Amazônia Legal, área cuja marca se associa por vezes mais ao Amazonas, inclusive no nome, em que pese o Pará abrigar 26% da área total do conjunto de estados que a compõem.
“O Pará é o que oferece o melhor potencial turístico, com praias maravilhosas. Nossa proximidade com a linha do Equador nos favorece, com praias planas. A dimensão do estado nos permite ter campeonato de surf em praia de rio. Isso é fantástico”, lembrou.
Leitão Siqueira cita o histórico ciclo da borracha, do final do século 19 e início do 20, como exemplo de que a bioeconomia é um tema já familiar. Agora, é preciso que a riqueza gerada com a exploração da biodiversidade seja direcionada ao povo paraense. Para isso, o diretor não abre mão da combinação entre ciência, tecnologia, educação do paraense e investimento público.
Para ele, tirar um produto da floresta e vender não é bioeconomia.
“Se não fizer um processo de transformação, com agregação de valor, não é bioeconomia. Só tirar o produto da floresta e vender, é algo já muito questionado por acadêmicos. Tem que ter transformação do potencial da floresta, com agregação de valor a ele e gerar desenvolvimento para o estado e sua gente”, disse.