As regiões de Araguaia, Carajás e Marajó devem ficar atentas. Segundo dados recentes da Embrapa, a Peste Suína Africana (PSA) pode causar um prejuízo de aproximadamente US$ 5,5 bilhões no primeiro ano de seu surgimento no rebanho suíno. A identificação de um foco de PSA na República Dominicana fez com que autoridades, pesquisadores e produtores voltassem o foco novamente para essa doença que está erradicada no Brasil desde o fim da década de 1970.
De acordo com os pesquisadores, atualmente cerca de 78% dos rebanhos suínos do mundo estão em condição endêmica ou de alto risco para a PSA. E, ao surgir a doença na República Dominicana, estudos epidemiológicos foram feitos para determinar a extensão do surto e medidas para a contenção foram adotadas para eliminar os focos da doença, evitando a disseminação.
O Brasil se mantém fora da lista de países endêmicos e os pesquisadores destacam que essa condição se deve ao avanço da biosseguridade da suinocultura brasileira, tanto nas granjas, como nas medidas adotadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para a importação de animais ou seus produtos e derivados para evitar a entrada de doenças. Além disso, os sistemas de vigilância e controle da saúde animal são atuantes e estruturados, muito diferente de 1978 quando a doença chegou ao Brasil.
“As carnes brasileiras trazem aproximadamente 15 bilhões de dólares de divisas para o Brasil, que exporta hoje 23% da carne suína produzida. Pela lei da oferta e procura, toda essa carne iria ’sobrar‘ e causar uma grande queda dos preços, levando a prejuízos para os produtores e desemprego tanto direto como indireto da cadeia da carne suína no Brasil”, completa o pesquisador Luizinho Caron, também da área de virologia da Embrapa Suínos e Aves.
Para evitar a chegada da doença, muitas medidas estão em vigor (veja vídeo abaixo) para garantir a segurança sanitária da carne suína brasileira, como a inspeção.
O Brasil tem ainda um Plano de Contingência Sanitária para o caso de identificação de suspeita de surto para Peste Suína Africana, além de inspeção ante e post mortem nos frigoríficos.
Outras normas que garantem a sanidade dos rebanhos brasileiros é a proibição da criação de suínos em lixões e alimentação com restos de comida. A rede de laboratórios oficiais do Mapa garante a realização do diagnóstico contra enfermidades de notificação obrigatória como a PSA.
No entanto, os cientistas deixam claro que não existe sistema com segurança total e por isso é importante estar sempre alerta às suspeitas da doença, sejam clínicas ou patológicas e informar imediatamente aos órgãos e sistemas responsáveis.
Não é possível “blindar” completamente um Estado ou país contra uma doença, sem tornar a produção inviável devido ao elevado custo. Por isso, a equipe técnica da Embrapa enfatiza que é preciso investir e garantir a biosseguridade.
As recomendações passam por estar atento à logística de transporte, fábricas de ração e frigoríficos de suínos, além de redobrar a vigilância com relação ao transporte ilegal de animais, uso de alimentos ou restos de alimentação humana que possam conter derivados de carne suína na alimentação de suínos sem prévio tratamento térmico.
As regiões de Marajó, Carajás e Araguaia respondem por 56% do efetivo de rebanho (cabeças) no Pará, segundo dados do Governo do Pará, de 2019.
Sintomas
A PSA foi identificada inicialmente na África, há um século, mas atualmente está presente em vários países produtores de suínos na Ásia, África, Europa e, mais recentemente, nas Américas, como na República Dominicana, onde foi identificada em julho de 2021. O vírus da PSA (VPSA) infecta várias espécies de suídeos: suínos domésticos e selvagens, javali europeu, warthogs e bushpigs. Os dois últimos são os hospedeiros naturais do vírus na África e nessas espécies não se observam sinais de doença.
O período de incubação do vírus da PSA é de 4 a 19 dias, e a doença pode ser apresentar nas formas aguda, subaguda e crônica em suínos de todas as faixas etárias. Os sinais da forma aguda são: inapetência, febre, leucopenia, petéquias e hemorragias na pele (orelhas, flancos) e elevada mortalidade. A sintomatologia subaguda ou crônica inclui abortos, sintomas respiratórios e baixa mortalidade.
As lesões dependem da forma de apresentação clínica da PSA e da variante viral, mas nas formas aguda podem ocorrer hemorragias extensas em órgãos internos (baço, linfonodos e rins), hidropericárdio, hidrotórax, ascite, edema no trato alimentar. Na subaguda observam-se hemorragias em linfonodos, rins e baço (aumentado), congestão, edema pulmonar e pneumonia intersticial. Já na crônica ocorrem lesões no trato respiratório, linfonodos e baço.
Fonte: Embrapa