No oeste do Pará, o avanço do garimpo ilegal é uma das principais ameaças à floresta e às populações da região. Como alternativa a esse modelo que tem promovido a devastação, indígenas Munduruku têm atuado no fortalecimento de cadeias produtivas com produtos típicos da região. Entre eles estão a castanha-do-Pará e a copaíba, espécie bastante utilizada na medicina tradicional, cujo manejo e comercialização baseados nos saberes locais podem ajudar a fortalecer a proteção da floresta.
A iniciativa é desenvolvida pelo Coletivo Poy, que busca estruturar alternativas econômicas sustentáveis para a geração de renda, segurança alimentar, valorização das culturas locais e da floresta em pé a fim de combater a degradação, conflitos e impactos da mineração ilegal nos territórios indígenas. O trabalho conta com parceria com o programa de Economia da Floresta do Projeto Saúde e Alegria (PSA).
Iniciado em 2022, o projeto já alcança resultados animadores, como o fortalecimento da organização social dos indígenas e o aumento da produção de castanha-do-Pará. No ano passado, por exemplo, foram 3 mil latas de castanha coletadas, o equivalente a 36 toneladas do fruto. Em 2024, 282 latas de castanha foram coletadas por 11 das 31 aldeias envolvidas.
Além disso, as estratégias discutidas incluem a comercialização de alimentos para a merenda escolar, a agricultura, o manejo da copaíba, entre outros que diversificam as fontes de renda do povo Munduruku e evitam o aliciamento da população para a exploração de ouro.
Oficinas
Nesse sentido, estão sendo promovidas oficinas de boas práticas e manejo do óleo da copaíba. A atividade mais recente ocorreu em junho na aldeia Pratati, na Terra Indígena Munduruku, no município de Jacareacanga. Os participantes receberam capacitação em temas como biossegurança e técnicas de perfuração, além de equipamentos e materiais necessários para a extração e a oportunidade de aplicar conhecimentos adquiridos na primeira extração de óleo no território.
“Um marco significativo da oficina foi a primeira extração de copaíba realizada pelo Coletivo Munduruku Poy, simbolizando o início de uma nova fase de manejo sustentável de produtos no território”, destacou Marlisson Borges, do Projeto Saúde e Alegria.
A partir dessa experiência, a expectativa é que a atividade seja mais explorada através da comercialização que leva em conta a sustentabilidade ambiental e social das comunidades envolvidas.
A Terra Indígena Munduruku possui cerca de 2.3 milhões de hectares e é uma das áreas protegidas mais ameaçadas na Amazônia, sendo constante alvo do desmatamento e do conflito com garimpeiros que exploram ilegalmente ouro na região e provocam o aumento da contaminação por mercúrio.