Por Fabrício Queiroz
Áreas degradadas reflorestadas com espécies nativas para geração de créditos de carbono e renda a longo prazo para os produtores. É com essa perspectiva que trabalha a re.green, startup que conseguiu o primeiro financiamento do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para investimento em restauração ecológica. Com planos ousados para se tornar uma das principais empresas desse segmento, a re.green já desembarcou no Pará visando ampliar os projetos na Amazônia.
A entrada na região ocorreu com a compra de uma fazenda de 4 mil hectares em Paragominas, município do sudeste paraense que ficou conhecido pelos altos índices de desmatamento, mas que mudou essa lógica a partir de investimentos em modelos de pecuária sustentável nas últimas décadas. A área adquirida pela re.green é uma antiga pastagem que está sendo recuperada com foco apenas na restauração e geração de créditos de carbono. Essa experiência deve servir de estímulo para engajar os produtores rurais locais no negócio.
“A gente tem um corpo acadêmico e científico muito forte nos orientando para que o trabalho seja desenvolvido em cima da ciência da restauração ecológica. Isso permitiu mapear as principais regiões para a restauração no País, e Paragominas é uma delas. Adquirimos a fazenda Ipê, que é por onde vamos começar esse processo, mas já projetando o avanço disso com as parcerias rurais”, comenta Luigi Grimaldi, especialista em parcerias da re.green.
A ideia é levar para as propriedades da região as tecnologias e estratégias que chamaram a atenção da Microsoft, que negociou a compra de 3 milhões de toneladas de carbono ao longo de 15 anos com a startup. No Pará, a área degradada receberá o plantio de espécies nativas, como o jatobá, o mogno e diversos tipos de ipê. Nas outras regiões onde a empresa atua no Maranhão e na Bahia, o cuidado com a promoção da biodiversidade também orienta os cultivos que já recuperaram 16 mil hectares.
“Estamos olhando para áreas de pastagem e com baixa aptidão econômica. A pecuária teve um ciclo produtivo negativo, a pecuária leiteira vem diminuindo e a gente sabe que isso pode levar alguns produtores a deixar a atividade devido à queda na rentabilidade. O que a gente propõe é pegar uma parte dessa área e fazer um projeto que vai proporcionar uma adição de renda para que eles tenham um fluxo de caixa a longo prazo. Nossa proposta não é de competir com a renda da agricultura e da pecuária, mas trazer uma possibilidade de rentabilidade adicional e sustentabilidade futura”, explica Luigi Grimaldi.
Com o mercado voluntário de carbono em alta e impulsionado pelas práticas de governança ambiental, social e corporativa (ESG) e as negociações para a criação de um marco regulatório para o setor, o especialista avalia que a restauração em larga escala se destaca como uma solução econômica e climática com perspectivas de crescimento a partir da Amazônia.
“O Brasil tem uma posição de liderança e protagonismo na restauração ecológica e florestal. Já Paragominas tem uma história recente ligada ao sistema ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) e à pecuária sustentável que se mostra no grande interesse que os produtores têm pelo mercado de carbono. Então, o potencial da re.green no Brasil e aqui na região é enorme Estamos muito animados com a oportunidade de complementar a renda e diminuir os riscos da produção rural com a restauração florestal”, ressalta.
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