Cinco redes europeias de supermercados e uma fabricante de alimentos comunicaram nesta quarta-feira, 15/12, que não vão mais vender carne bovina com origem no Brasil ou produtos de carne ligados à empresa brasileira JBS por causa de recentes denúncias de destruição da Floresta Amazônica. As informações são do site alemão “Deutche Welle”.
De acordo com a reportagem, as seis redes são o grupo holandês Ahold Delhaize (que inclui as marcas Delhaize e Albert Heijn), a também holandesa Lidl Netherlands (que pertence ao grupo alemão Lidl), a belga Carrefour Belgium (subsidiária do grupo francês de mesmo nome), a francesa Auchan e a britânica Sainsbury’s. A elas une-se a empresa alimentícia britânica Princes Group.
Os compromissos assumidos variam de uma empresa para a outra. A Lidl se comprometeu a não vender mais carne com origem na América do Sul a partir de 2022. A Albert Heijn, maior rede de supermercados da Holanda, comunicou que vai parar de vender carne brasileira. Já a Delhaize e a Carrefour Belgium não vão mais vender salgadinhos de charque e outros produtos da marca Jack Link’s, associada à JBS.
A Albert Heijn esclareceu que tem em suas prateleiras apenas alguns poucos salgadinhos feitos com carne brasileira. A Sainsbury’s afirmou que pretende eliminar a carne brasileira da sua marca própria de corned-beef, mas acrescentou que 90% da sua carne já vêm do Reino Unido e da Irlanda.
Os boicotes foram anunciados depois de uma investigação das ONGs “Repórter Brasil” e “Mighty Earth” acusar a JBS de adquirir reses criadas em áreas desmatadas, dentro de um esquema conhecido como “lavagem de gado”.
Por esse esquema, gado criado em áreas desmatadas é transferido para uma fazenda regularizada e depois vendido para o abate. Dessa forma, a origem da rês é mascarada.
“Esses não são compromissos vagos ou anúncios bonitinhos que ficam bem em comunicados de imprensa, mas uma série de ações comerciais concretas adotadas por algumas das maiores redes de supermercado da Europa para parar de comprar e vender carne bovina de uma empresa e de um país que fizeram muitas promessas, mas apresentaram poucos resultados”, afirmou o diretor para a Europa da Mighty Earth, Nico Muzi.
BS promete tolerância zero
A JBS declarou à agência de notícias Reuters que mantém tolerância zero com o desmatamento ilegal e que bloqueou mais de 14 mil fornecedores por descumprirem suas normas. A empresa acrescentou que monitorar fornecedores indiretos (que fornecem ao fornecedor final) é um desafio para todo o setor, mas que pretende criar um sistema para isso até 2025.
O desmatamento na Amazônia subiu no governo do presidente Jair Bolsonaro. Entre agosto de 2020 e julho de 2021, atingiu 13.235 km², segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Número equivale a mais do dobro da área do Distrito Federal e é o maior desde 2006.
Ações no Pará
A empresa JBS tem estado no olho do furacão há quatro anos por suspeitas de irregularidades no âmbito da Operação Lava Jato. No ano passado, o Ministério Público Federal (MPF) do Pará fez uma auditoria nos frigoríficos do Estado em que foram constatadas, segundo o órgão, irregularidades em vários estabelecimentos entre janeiro de 2018 e junho de 2019. Os maiores índices de irregularidades foram encontrados nos frigoríficos da JBS. Os resultados da auditoria foram divulgados no dia 7/10.
Segundo o MPF, o frigorífico comprou 940.617 cabeças de gado no período, oriundas do Pará, sendo que 31,99% apresentaram evidência de irregularidade. É um índice três vezes superior ao tolerado pelo órgão para a auditoria.
A auditoria é um acompanhamento do Termo de Ajuste de Conduta (TAC) da Pecuária no Pará firmado entre vários frigoríficos e o MPF-PA em 2009 de não comprar gado para abate de áreas desmatadas ilegalmente, de terras indígenas, unidades de conservação e de empregadores na lista de trabalho escravo.
A empresa respondeu ao Pará Terra Boa na época, em outubro, que tem ampliado as boas práticas na empresa com o objetivo de reforçar a sustentabilidade da cadeia de fornecimento de bovinos no Pará. A JBS também entende que houve imprecisões nas definições dos critérios de monitoramento.
A empresa também anunciou um conjunto de ações com o objetivo de reforçar a sustentabilidade da cadeia de fornecimento de bovinos no Pará e ampliar a adoção de boas práticas por toda a indústria. Os investimentos somam R$ 5 milhões no Estado.
Fonte: Deutsche as/lf (Reuters, AFP, OTS)
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