O uso da tecnologia pela agricultura brasileira foi determinante para que o país alcançasse o patamar de um dos maiores produtores de alimentos no mundo. Como a evolução é contínua, a modernização de métodos de trabalho no campo, no entanto, é encarado hoje pelos principais representantes do agro brasileiro como um dos grandes obstáculos do setor. A Agricultura 4.0 (Agro 4.0), também chamada de agricultura digital, por exemplo, é uma referência à Indústria 4.0 de inovação da indústria automobilística.
O novo conceito aplicado ao Brasil defende o emprego de métodos computacionais de alto desempenho: rede de sensores, comunicação máquina para máquina (M2M), conectividade entre dispositivos móveis, computação em nuvem, métodos e soluções analíticas para processar grandes volumes de dados e construir sistemas de suporte à tomada de decisões de manejo.
A busca pela otimização no uso dos recursos naturais e insumos projeta uma fazenda do futuro massivamente monitorada e automatizada com vistas à elevação dos índices de produtividade, bem como à redução de custos de mão de obra, melhoria na qualidade do trabalho, segurança dos trabalhadores e diminuição dos impactos ao meio ambiente.
Agritechs
Para Thomas Britze, CEO da AMVAC (American Vanguard Company), o emprego da tecnologia vai permitir que cada fazenda tenha um diagnóstico próprio, com relação à qualidade do solo, presença de insetos e fungos, volume de pesticidas, de forma a reduzir os custos de produção.
Nesse movimento a favor de novas tecnologias do campo surgiram as chamadas agritechs, que são startups surgidas em universidades com a proposta de apresentar novas técnicas ao agro. Segundo a Radar Agtech Brasil, havia no país 1.574 empresas dessa natureza no país em 2020, um aumento de 40% em relação aos números de 2019.
De acordo com Monique Vanni, pesquisadora de agritech, esse mercado deve crescer 18% em 2021. Segundo ela, 84% dos produtores brasileiros já adotam alguma tecnologia digital em sua produção. Ela citou, durante o Fórum Brasileiro do Agronegócio, os drones e monitoramentos do campo via satélite.
“Ser produtor hoje é diferente do que vai ser daqui a 10 anos”, afirmou.
Ela chama atenção para o emprego de tecnologias que garantam a inviolabilidade de dados do produtor.
A chamada ‘internet das coisas’
Para o professor Roberto Rodrigues, da FGV/AGRO, está chegando um “tsunami” com a “internet das coisas”. O termo Internet das Coisas (Internet of Things, IoT) faz parte do vocabulário da Agricultura 4.0.
As “coisas” são máquinas, cidades, elementos de infraestrutura, veículos ou residências que se conectam à internet para transmitir dados, receber instruções e até atuar com base em comandos.
“Não será apenas mecanização, está chegando um tsunami com a internet das coisas. São instrumentos dominados pela juventude. Temos gente jovem que conhece TI, vindo para o campo e mudando a gestão das fazendas, das operações financeiras e ambientais”, afirmou o pesquisador durante o Fórum Brasileiro do Agronegócio.
Nesse encontro, o presidente da Abraleite, Geraldo Borges, chamou a atenção para a necessidade urgente de melhorar a conectividade no campo “para que produtores possam ter boa internet para utilizar ferramentas que já estão disponíveis”.
A Revista Plant informou em sua edição do mês de abril que o governo de Goiás em Rio Verde desenvolveu, em parceria com o setor privado, por exemplo, uma técnica de identificação de erva daninha. Após detecção da praga em tempo real, o produtor toma sua decisão em tempo recorde.
A publicação cita ainda que, na Suíça, pequenos robôs funcionam como veterinários virtuais ao monitorarem, por meio de imagem e inteligência artificial, a saúde do animal. “A mensagem é clara: é preciso investir em pesquisa, ciência e inovação”, resume Rodrigues.