Por Fabrício Queiroz
No sudeste paraense, a pecuária ajudou na fixação de muitos migrantes e no desenvolvimento da economia local. Apesar do setor manter sua importância, novas estratégias produtivas estão ganhando espaço na região. Em Novo Repartimento, por exemplo, é o cacau que vem despontando produtores cada vez mais engajados na busca por alternativas de geração de renda e restauração florestal.
O incentivo à cacauicultura no município é parte dos objetivos da Fundação Solidaridad, uma organização internacional da sociedade civil que há 15 anos desenvolve projetos com cadeias agropecuárias socialmente inclusivas, ambientalmente responsáveis e economicamente rentáveis no Brasil. Além do cacau e da pecuária sustentável, há ações envolvendo as culturas do café, da cana-de-açúcar, da erva-mate, da laranja e da soja.
Paulo Lima, gerente do Programa Amazônia da Fundação Solidaridad, explica que o trabalho no estado começou em 2013 com um diagnóstico sobre a realidade e as necessidades dos agricultores familiares. Nessa etapa, foi detectado que havia uma grande carência de conhecimentos técnicos e iniciativas de extensão rural para os produtores da região.
“Havia um quadro de produtores desassistidos de assistência técnica desde meados da década de 70 e 80. Eles produziam principalmente na pecuária, alguns aderiram ao plantio de cacau, mas estavam lutando bravamente para tirar o sustento sem nenhum acompanhamento técnico. Por isso, decidimos contribuir nessa seara da assistência técnica”, justifica.
Assim, surgiu um modelo de assistência técnica e extensão rural (ATER) estruturado em ações continuadas com duração de cinco anos. A ideia é que após esse ciclo de capacitação fique um legado tanto para os agricultores quanto para as cooperativas locais.
Até o momento, 1.378 produtores dos municípios de Novo Repartimento, Pacajá e Anapu já foram atendidos e tiveram acesso a conhecimentos relacionados à fermentação, armazenamento e secagem das amêndoas de cacau, o que agrega valor ao fruto que pode servir de matéria-prima para produção de chocolates finos.
“Se o produtor consegue atingir características que diferem seu cacau de outros, ele consegue agregar mais valor. Nesse sentido, o nosso grande case é o cacau Tueré que provém do assentamento com uma das origens do cacau mais conhecidas do Brasil em termos de qualidade”, ressalta Paulo Lima, lembrando que as amêndoas da região já foram premiadas em concursos nacionais e internacionais do segmento.
Um desses premiados é João Rios, que desde o ano 2000 vem atuando na lavoura cacaueira. Apesar da longa trajetória no ramo, ele conta que ainda enfrentava muitas dificuldades por desconhecer algumas técnicas de manejo, de cultivo e de poda, além do entendimento sobre as necessidades da planta. Após a formação, João vê boas perspectivas para o crescimento da atividade com a manutenção da qualidade já conquistada.
“Com essas capacitações que a gente teve, ajudou a gente a aumentar a produção da lavoura e consegui também valorizar em questão de melhoramento. Hoje, a gente faz um melhoramento das amêndoas de cacau, consegue ter um preço mais elevado no mercado, então isso é uma conquista muito boa pra gente”, afirma o produtor.
Além de mais ganhos econômicos, Paulo Lima ressalta que o cultivo de cacau no Pará traz grandes contribuições ambientais. Isso porque o modelo mais disseminado no estado é com lavouras em sistemas agroflorestais (SAFs), que são capazes de sequestrar até 12 toneladas de carbono por hectare ao ano, bem como ajudam na restauração de áreas degradadas.
“A possibilidade de se ter boas produtividades e boa qualidade de cacau com SAF no Pará é interessante porque traz o produtor para a agenda da restauração florestal. Ou seja, eles podem restaurar suas reservas legais com a lógica da restauração produtiva. As famílias se interessam muito mais por essa estratégia quando notam que podem reduzir seus passivos ambientais”, pontua o gerente do Programa Amazônia.