Você sabia que o primeiro pé de café plantado no País foi no Pará, em 1729, procedente de Caiena, Guiana Francesa? Desde então, o tempo passou, o café se espraiou pelo País e o Pará hoje está longe de produzir o que os grandes produtores do Brasil produzem, como Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo ou Rondônia.
Mas nosso Estado não abandonou por completo essa cultura. A implantação do programa da colonização da Transamazônica, a partir de 1970, fez com que o governo colocasse a cultura do cafeeiro como uma das opções para os colonos nos Estados do Pará e Rondônia, que se destaca como segundo produtor nacional de café Conilon.
Contudo, verifica-se um grande declínio da produção de café nesses dois Estados a partir da década de 1990. As causas decorrem da falta de mão de obra, dominância do cafeeiro Robusta, distância em relação ao mercado, inexistência de usinas de torrefação e competição com o produto beneficiado.
Os municípios maiores produtores estão localizados na faixa da Transamazônica, destacando-se Medicilância, que concentra 35% da produção estadual, seguida de Altamira e Uruará, segundo dados da Embrapa, de 2017.
Mas a cultura cafeeira está em alta porque neste mês de novembro porque a Aliança Internacional das Mulheres do Café Brasil (IWCA Brasil) comemorou seus 10 anos de vida em um café da manhã nesta sexta-feira, 12/11, último dia da Semana Internacional do Café (SIC), em Belo Horizonte (MG).
A presidente da IWCA, produtora de cafés especiais Miriam Monteiro de Aguiar, lembra que a história do café é marcada por processos de exclusão como a escravidão e o patriarcalismo, “mas as mulheres sempre foram parte importante de todos elos da cadeia cafeeira”.
“A IWCA nasceu em um espaço que não existia nada. Era um deserto, e a gente semeava em um deserto. Era um ambiente de protagonismo masculino tradicionalmente, em que as mulheres invisíveis sustentavam negócios e participavam ativamente do processo, mas se julgavam coadjuvantes e ajudantes”, disse Miriam Aguiar.
A associação foi fundada no Brasil oito anos depois de o movimento ter começado globalmente, diferença de tempo que Miriam atribui a essa tradição masculina no café.
Desde então, a associação firmou parcerias para capacitação e inserção das mulheres em posições de protagonismo.
Como associação global, a IWCA tem um papel de colocar as mulheres brasileiras em contato com mulheres do café de outros 24 países, o que Miriam conta que foi fundamental para que ela própria pudesse ousar exportar seus cafés.
“É muito importante quando você visualiza espaços que você pode alcançar. Isso amplia seu campo de atuação”.
É preciso resistir
A ex-consultora da ONU Mulheres Helga Andrade explica que, por questões culturais e sociais, muitas vezes mulheres têm dificuldade de desenvolver competências que podem ser úteis durante a carreira, principalmente diante de ambientes de maioria masculina.
“Por exemplo, se eu for abrir uma torrefação, que tipo de competência eu tenho que desenvolver para ser bem sucedida? Tem uma série de competências que muitas vezes não passam pela nossa cabeça. Não tem a ver só com torrar café, tem a ver com comportamento e como a gente se apresenta para o mercado. E, muitas vezes, pela nossa história de vida, a gente não tem acesso a esse conhecimento”, diz a ex-consultora da ONU Mulheres.
“Principalmente no meio rural, existe uma certa expectativa de comportamentos que são femininos, e isso muitas vezes vem da nossa família. A gente escuta muito de produtoras e profissionais que têm dificuldade de se posicionar dentro de grupos majoritariamente de homens ou exclusivos de homens. E a gente fala de diferentes formas de se posicionar nesses espaços e entender a mecânica do mercado”.
Pelo fato de o Estado do Pará ter sido o local de entrada do cafeeiro, em 1727, torna-se urgente resgatar as variedades primitivas de cafeeiro que estão localizadas no Nordeste Paraense, sob risco do seu desaparecimento.
Fonte: Própria com Agência Brasil