O paraense sabe que existe uma parcela de indígenas favoráveis à aprovação do Projeto de Lei da Mineração em Terras Indígenas, que abre uma fenda enorme em nossas florestas para exploração de minérios e ouro nesses territórios, colocando em risco a vida da população e os meios de sobrevivência de centenas de comunidades, como rios e peixes.
Kokomati Kayapó, liderança da aldeia Gorotire, era um deles. Ele vive na Terra Indígena Kayapó – onde estão os Gorotire – situada na parte sul do Pará, próxima de Novo Progresso, Altamira e São Félix do Xingu. Em meados de março, no entanto, ele reviu sua posição favorável à destruição dos territórios. Desde meados de março, ele se coloca contrário ao projeto. É o que revelou na segunda-feira, 4/04, a revista piauí.
Segundo a publicação, Kokomati postou um vídeo no grupo de WhatsApp da Concentração do Povo Kayapó criticando o projeto. Sob pressão de garimpeiros, alguns entram à força no movimento pró-garimpo, outros fazem acordos. Neste caso, caciques ou lideranças locais levam parte dos lucros em troca da conivência com a exploração.
O valor, ínfimo em relação ao ouro extraído, costuma beneficiar algumas poucas famílias, e não a comunidade. “Mas é dinheiro vivo, na mão, todo dia; acaba seduzindo”, explica Doto Takak-Ire, responsável pelas relações públicas do Instituto Kabu, uma associação formada por 12 aldeias Kayapó. “Com a exploração de madeira é a mesma coisa. Vira um vício”, reporta a piauí.
Em nosso Estado, um forte aliado dos garimpeiros é o deputado federal Zequinha Marinho (PL-PA). Ele, inclusive, é pré-candidato ao governo do Pará.
Mas advogados ambientais já relataram que o PL da Mineração em Terras Indígenas é inconstitucional, ou seja, choca com o que diz a Constituição. Para ficar em um exemplo, ele legaliza o garimpo predatório, que é proibido pelo parágrafo 7 do artigo 231 da Constituição. Se for aprovado, isso com certeza vai ser questionado no Supremo Tribunal Federal, conforme afirmou à revista o ex-presidente da Funai, o ambientalista Marcio Santilli.
Além de Kokomati Kayapó, outro fogo amigo também tenta barrar o PL, como as 127 empresas associadas ao Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), hoje presidido pelo ex-deputado federal Raul Jungmann.
Os Gorotire vão participar do Acampamento Terra Livre, o mais importante movimento político indígena, realizado em Brasília até o dia 18 deste mês. “Lá a gente vai conversar e entender por que eles mudaram de ideia”, disse Doto Takak-Ire, do Instituto Kabu, à piauí. “Já me adiantaram que se sentem enganados. Esse grupo chegou a ir pra Brasília tirar foto com Bolsonaro.”
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