Por Fabrício Queiroz
O Pará desponta atualmente como maior produtor de cacau do Brasil, com quase 146 mil toneladas produzidas, de acordo com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap). Mas, além de um dado quantitativo, a cacauicultora se destaca pela rica variedade encontrada somente na Amazônia. Esse diferencial contribui para o crescimento da produção de chocolate com sabores únicos.
As andanças e experiências profissionais possibilitaram que o chocolatier César de Mendes conhecesse muitas dessas iguarias, hoje espécie de selo de qualidade de sua marca apresentada no mercado como “o autêntico chocolate amazônico”. Entre o produtos da De Mendes Chocolate, estão o cupulate das mulheres trabalhadoras rurais de Belterra e os chocolates produzidos com cacau dos sistemas agroflorestais de Tomé-Açu ou do povo Yanomami, entre outros.
Inclusive, foi no contato com os indígenas que De Mendes idealizou a proposta de biofábricas de chocolate, que inspiraram o Laboratório Criativo da Amazônia (LCA), do Instituto Amazônia 4.0. O principio é o mesmo em ambos os projetos: aproveitar e beneficiar os recursos naturais de forma sustentável, demonstrando na prática as possibilidades de agregação de valor à biodiversidade e a importância desse tipo de estratégia para conter a devastação da floresta.
“Entre 2018 e 2019, eu estive pela primeira vez com os Yanomami. Lá, eu comecei a mostrar algumas coisas, como um bolo de banana com cacau e chocolates que eles não conheciam porque só faziam o aproveitamento da polpa. Depois disso eles passaram a plantar e entenderam que isso poderia ser incorporado na cultura deles”, conta o chocolatier.
Porém, De Mendes logo percebeu que era preciso pensar em soluções para beneficiar o fruto nas próprias comunidades, estimulando assim o protagonismo das populações tradicionais na cadeia produtiva. Foi assim que ele passou a implementar biofábricas de forma experimental.
“A gente começa com um certo “improviso” para cruzar esses conhecimentos e mostrar que é possível processar e fazer chocolate em qualquer lugar”, comenta De Mendes, que foi consultor da proposta do LCA e vê nesse tipo de experiência como uma forma de estimular a criatividade e fortalecer vínculos.
“O modelo que eu proponho é mais artesanal. Eu ensino o fundamento de como fazer a torra, por exemplo, com menos recursos, mas com resultados semelhantes. O importante é a qualificação e a diferença que essa informação faz na vida das comunidades”, afirma.
Para fomentar mais experiências como essa, o chocolatier criou no ano passado o Instituto De Mendes que tem como foco a disseminação do conhecimento para fomentar a autonomia e as soluções econômicas baseadas na natureza.
“Temos uma visão de criar vínculos com as comunidades. Quando eu fortaleço meus vínculos, isso gera confiança, dá uma segurança maior para o fornecimento e permite pensar até em escalonamento da produção, que traz impactos positivos para essas populações”, frisa De Mendes.