Vem de Santarém o segundo lugar do Prêmio Elos da Amazônia 2021 – Edição Açaí. Trata-se da bióloga Valéria Moura com o projeto de café do caroço de açaí padronizado em laboratório. A premiação do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) buscou iniciativas inovadoras que se propusessem a solucionar ou contribuir para o funcionamento efetivo da cadeia produtiva do fruto no Amazonas.
O paraense sabe que o chamado “café de açaí” tem cada vez mais conquistado espaço no mercado. O produto é mais uma das possibilidades que a fruta oferece aos consumidores. Já sabemos que do fruto é possível produzir açaí fermentado (vinho), licor, café, mas também que seu caroço é usado na geração de energia elétrica e na pavimentação de ruas. Mas, infelizmente, essa valiosa parte do açaí é dispensada nas vias públicas de várias cidades do Estado sem qualquer destinação, uma vez que cerca de 80% do açaí processado transforma-se em resíduo.
A ideia de Valéria partiu da necessidade de uma comunidade paraense específica, a Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Belterra (Amabela), no oeste do Estado, a 40 km de Santarém, onde convivem comunidades tradicionais na Floresta Nacional de Tapajós e produtores de soja. Uma das lideranças do coletivo feminino é dona Selma Ferreira da Costa.
“A ideia do nosso trabalho é desenvolver a parte científica para colocar o café no mercado. Estamos fazendo a granulometria para padronizar o tamanho do café, analisando a intumescência para ver a quantidade de água, os compostos de polifenóis, por exemplo. Queremos saber, após o processo de torrefação, se os polifenóis são mantidos”, diz a pesquisadora em relação ao composto antioxidante presente no açaí.
Como pesquisadora, Valéria já conhecia dona Selma antes de ser premiada. A pesquisa do café de caroço de açaí era uma das necessidades científicas da associação, que hoje comercializa vários produtos orgânicos. Ou seja, o reconhecimento da pesquisa de Valéria é uma vitória também da Amabela. Aliás, a Amabela, diga-se de passagem, condena o uso de agrotóxicos e promove o empoderamento de mulheres.
Valéria, então, fez parceria com a associação de forma a alavancar a produção das dezenas de mulheres integrantes da associação. “Não havia nenhuma padronização para produzir o café. Então, começamos uma parceria de estudar o caroço em laboratório. Além da parceria cientifica, houve uma parceria de negócio”, conta Valéria, que também é empreendedora da marca Deveras Amazônia, com produção artesanal de geleias, conservas e licores com sabores amazônicos.
A parceria entre Valéria e a Amabela só evolui, conta ela.
“Estamos fazendo a padronização para melhorar o processo de fabricação da Amabela e entrar nas exigências legais. Dona Selma construiu uma fabricazinha, bem artesanal, no quintal dela, mas já está avançando rápido, colocando as exigências científicas na produção”, diz Valéria.
O chamado “café de açaí” parece, mas não é café porque não tem cafeína. Tem muita fibra, é rico em taninos e seu cheiro é bem mais suave que o do café normal. Após lavados, os caroços são torrados e moídos, de forma similar como se faz com o café convencional.
“Muitos fazem café de caroço de açaí na Amazônia, mas sem acompanhamento científico. A ideia do nosso trabalho é desenvolver a parte científica para colocar no mercado”, reforça Valéria.
A próxima fase da equipe de pesquisadores é descobrir em qual legislação se encaixa a bebida, se na de café ou chá.
O Prêmio Elos da Amazônia 2021 – Edição Açaí é um evento nacional e online, realizado pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio) e Impact Hub Manaus, com o apoio da rede Uma Concertação pela Amazônia.
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