Pássaros, canoas, casas, pessoas, peixes, entre outros elmentos que fazem parte da vida ribeirinha ganham cores vivas e representações delicadas na forma de um artesanato tipicamente paraense. Os brinquedos de miriti são um exemplo de como relação das populações tradicionais com os recursos da floresta é responsável pela criação de formas únicas de expressão, que aliam geração de renda com proteção da natureza.
As palmeiras de miriti, também chamado de buriti, estão presentes em várias regiões da Amazônia, mas foi no município de Abaetetuba, no nordeste do estado, que elas ganharam as formas que encantam crianças e adultos.
É das árvores facilmente encontradas em áreas de várzea, que os artesãos extraem o material utilizado na produção das peças. Tudo ocorre de forma sustentável, já que a matéria-prima são os chamados “braços” que nascem dos troncos. Alguns deles são retirados para permitir que novos brotem no futuro. Já o vegetal permanece vivo, oferecendo, por exemplo, o fruto que é muito apreciado na alimentação e já vem sendo explorado na produção de cosméticos.
Depois da extração, o “braço” precisa secar ao sol e só então pode ganhar a forma desejada pelo artesão. Em geral, são animais como cobras, peixes, onças e pássaros, mas também casas e barcos ou ainda casais de namorados. É a originalidade que domina o processo desde a criação até a finalização, quando os produtos passam pelo lixamento e pintura.
Francenilson Magno, de 36 anos, diz que aprendeu todas essas etapas ainda criança apenas observando o tio que também atuava no oficio. De acordo com ele, o trabalho tem uma parte mais braçal, mas também exige cuidado e habilidade.
“A parte mais difícil é no final porque é um trabalho mais lento. Tem que ter a mão mais leve na hora de lixar e pintar pra fazer bem o acabamento”, explica o artesão, que gosta de representar principalmente as embarcações e a fauna da região.
Tradicionalmente, os brinquedos de miriti foram associados ao Círio de Nazaré, sendo inclusive um dos elementos elencados no registro de tombamento da festa como patrimônio cultural imaterial. Ainda hoje, o Círio é uma grande vitrine para os artesãos de Abaetetuba, mas, segundo eles, a atividade ocorre o ano todo com a demanda de exposições e encomendas de vários estados brasileiros.
“A gente pega muita encomenda de fora. As pessoas se encantam muito pelas cores e pelo material. E a gente procura sempre inovar para que elas gostem cada vez mais”, conta José Maria da Silva, de 56 anos, que atua há mais de 30 anos no ramo e é vice-presidente da Associação dos Artesãos Produtores de Artesanato de Miriti (AAPAM).
O reconhecimento dos consumidores é um incentivo para os artesãos que veem um cenário positivo para a atividade, mas sonham com uma valorização ainda maior.
“Falta ainda mais apoio. Podiam olhar mais pra gente e isso seria uma cosia boa porque esse é um artesanato típico que só existe em Abaetetuba”, ressalta Francenilson.
Para o diretor-superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Pará (Sebrae), Rubens Magno, uma das formas de garantir mais competitividade e ampliar o impacto local dos brinquedos de miriti será com a conquista do selo de indicação geográfica, que deve enfatizar as características diferenciadas desse artesanato.
“Já estamos trabalhando com essa possibilidade. Temos uma quantidade de produtos absurdamente maravilhosos do miriti. Já iniciamos esse processo com o traçado de Arapiuns e o miriti está com estudos sendo elaborados desde o ano passado. Estamos trabalhando com a perspectiva de ter esse reconhecimento dentro do prazo de até quatro anos”, afirmou Magno.
Por Fabrício Queiroz