A vida de parte dos marabenses está um suplício há duas semanas. São quase 3 mil famílias desalojadas de suas casas em razão da enchente dos rios Tocantins e Itacaiunas. O governo estadual oferece R$ 1.212 para os atingidos recomeçarem suas vidas. Para receber o benefício, o atingido deve fazer o cadastro na Defesa Civil Estadual e Corpo de Bombeiros, no Carajás Centro de Convenções.
As famílias devem se encaixar nos seguintes critérios: possuir renda familiar de até três salários mínimos, residir em imóvel que tenha sido direta e gravemente atingido por fortes chuvas que causaram deslizamentos, inundações, enxurradas e alagamentos.
Na manhã desta segunda, 17/01, a régua fluviométrica marcou 12 m e 96 cm acima do nível normal dos rios, o que representa uma elevação de 4 centímetros, em 12 horas.
Das quase 3 mil famílias atingidas pelas cheias, 640 estão nos abrigos, 1.384 em casas de parentes e amigos, 401 ribeirinhos permanecem onde moram e 411 encontram-se ilhadas, também sem sair das residências.
“Chegou mais cedo, muito mais cedo. Eu estou é com medo dela”, comenta uma moradora sobre as chuvas ao “Jornal Nacional”, da TV Globo, em referência à antecipação das enchentes, previstas para final de fevereiro e início de março, provocando a maior cheia neste período em 20 anos.
“Daqui é onde eu tiro o sustento da minha família, e agora a gente não tem mais nada para levar para vender”, desabafa outra moradora ao programa.
As enchentes já deixaram sete municípios em situação de emergência, além de Marabá, como Aveiro, Rurópolis, São João do Araguaia, Itupiranga, Pau D’Arco, Bom Jesus do Tocantins e Trairão.
Mudanças climáticas
Eventos climáticos extremos, como o das cheias, estão entre os três principais riscos que a humanidade terá de enfrentar nos próximos 10 anos, segundo Relatório de Riscos Globais do Fórum Econômico Mundial, lançado no último 10 de janeiro.
O relatório, publicado anualmente, norteará as discussões do Fórum Econômico Mundial, que será realizado em Davos, na Suíça entre esta segunda, 17, e 21 de janeiro. A pesquisa é feita com mais de mil líderes mundiais que representam empresas, governos e organizações globais. No novo relatório, as questões climáticas lideram o ranking de maiores preocupações nos três horizontes de tempo do levantamento – curto, médio e longo prazos.
As mudanças climáticas são realidade em várias partes do Brasil e do mundo. Mesmo os países mais ricos do mundo não conseguiram controlar incêndios generalizados – que queimaram até o Ártico. Inundações mortais na Alemanha e na Bélgica em julho de 2021 destruíram completamente edifícios e carros. Centenas morreram em enchentes na China. O noroeste dos Estados Unidos, conhecido por seu clima frio, atingiu mais de 38°C por vários dias. E o Ártico perdeu uma área de gelo marinho equivalente ao tamanho da Flórida entre junho e meados de julho de 2021.
Essas mudanças estão acontecendo com um aquecimento médio de apenas 1,1°C em relação aos níveis pré-industriais. O mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o órgão de maior autoridade do mundo em ciência do clima, conclui que isso é apenas uma amostra do que está por vir.
O sexto relatório do Grupo de Trabalho I do IPCC mostra que o mundo provavelmente atingirá ou excederá 1,5 °C de aquecimento nas próximas duas décadas – mais cedo do que em avaliações anteriores. Limitar o aquecimento a este nível e evitar os impactos climáticos mais severos depende de ações nesta década.
Somente cortes ambiciosos nas emissões permitirão manter o aumento da temperatura global em 1,5°C, o limite que os cientistas dizem ser necessário para prevenir os piores impactos climáticos. Em um cenário de altas emissões, o IPCC constata que o mundo pode aquecer até 5,7°C até 2100 – com resultados catastróficos.
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